domingo, 29 de agosto de 2010

Três é Demais

Três é Demais
Rushmore, 1998
Dirigido por Wes Anderson
Escrito por Wes Anderson & Owen Wilson
Com Jason Schwartzman, Bill Murray, Olivia Williams, Mason Gamble, Brian Cox, Luke Wilson, Sarah Tanaka

Qual é a dificuldade que você tem para dizer "Rushmore"? "Rushmore". Nem precisa forçar para falar com sotaque norte-americano. "Rushmore". Mais uma vez os "tradutores de títulos" cometem uma atrocidade com um filme, ao trocar o simples título do filme de Wes Anderson (Pura Adrenalina, O Fantástico Sr. Raposo), por um título ridículo como este. Mas eu nem deveria me irritar mais com isso. Atrocidades já são bem comuns nos títulos nacionais de filmes estrangeiros. Shutter Island (Martin Scorsese, 2010) que o diga.

Poucas vezes eu me identifiquei tanto com uma personagem. Vejamos a sinopse: Max Fischer (Schwartzman) é um aluno cujo seu nome marca presença em todas as atividades extra-curriculares. Das mais normais, como clube de latim, até as mais bizarras, como clube de gamão (quem, por Deus, ainda joga gamão?!) e de apicultura. Certo dia, após conhecer um rico industrial, Herman Blume (Murray) e de ser ameaçado de expulsão pelo seu diretor, Nelson Guggenheim (Cox), Fischer conhece uma bela e jovem professora, Rosemary Cross (Williams). Fischer desenvolve um amor nenhum pouco salutar, e desenvolverá os planos mais megalomaníacos (como construir um aquário com as mais variadas espécies de peixes). Tudo com o apoio do seu novo amigo Blume. Mas Fischer não contava com uma coisa só. Blume também se apaixona por Rosemary.


De certo modo essa sinopse lembra um pouco Quem Vai Ficar com Mary?. Eu disse "lembra". Apesar de ser uma comédia bacana, o filme dos Irmãos Farrely está longe de se aproximar da inteligência, força e beleza deste ícone do cinema independente norte-americano. Wes Aderson, junto com seus atores, cria um maravilhoso retrato singelo da obsessão e do amor. O filme não quer ser pretensioso, mas sabe da sua capacidade, e isto é um ponto forte.

Anderson, utilizando-se da sua grife habitual (câmera parada, zoom, distorção barrel, long takes, etc.) cria um filme singelo e sóbrio. Um casamento perfeito com o ritmo que o roteiro quer passar. Poucos cineastas conseguem conciliar roteiro e direção de modo tão eficaz como Anderson.

É óbvio que em alguns momentos o estilo de Wes torna-se abusivo. É realmente necessário a distorção no campo visual que ele insiste em colocar? Bom, ainda bem que quando isto acontece, temos os diálogos maravilhosos do script do próprio Anderson com Owen Wilson. Aliás, quando vejo os créditos da película, me vem apenas um pensamento na minha mente: "Por que, um sujeito que parece ser tão inteligente, como o Owen, faz um filme do estilo de Uma Noite no Museu?" Vai saber, né?

Jason Schwartzman (filho de Talia Shire, irmã de Francis Ford Coppola), no seu primeiro papel na carreira, mostra-se um excelente ator. Seu nariz estranho (aliás, toda a família Coppola tem narizes estranhos. Repare no de Sofia Coppola) lhe dá um ar extremamente cômico, e condiz com a sua personalidade excêntrica. Bill Murray faz um ótimo Herman Blume (o filme foi um renascimento na sua carreira). Olivia Williams, que não é muito conhecida (não me lembro de outros filmes dela fora O Sexto Sentido, Peter Pan e uma participação especial em Friends), faz um bom trabalho, bem competente.


Além de tudo isso, Rushmore trás uma ótima trilha sonora. Não só a instrumental, de Mark Mothersbaugh, colaborador habitual do diretor Anderson, como a não-original, recheada de músicas da época da Invasão Britânica. Rolling Stones, Donovan, The Who, estão lá marcando presença. Anderson explica que o motivo desta porrada de música britânica vem do visual de Max "que lembra um estudante britânico. Até por que ele quer ser um."

Entretanto não é só de louvor que este filme vive. Quando chegamos perto do final da projeção, e ainda vemos os dois brigarem por Rosemary, já estamos enfadados daquilo. Queremos descanso. Não somos nós quem está apaixonado pela professora. Estamos apaixonados pelo filme, e só queremos o seu melhor. Mas talvez haja uma explicação. O que um homem faz por uma mulher quando a ama. Não quer dividi-la. Por isso eles ainda estão brigando.

Por isto o nome de Rosemary poderia ser Helena.

Nota: 4 estrelas em 5

Por Victor Bruno

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