Sinais
Signs, 2002
Dirigido por M. Night Shyamalan
Escrito por M. Night Shyamalan
Com Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin, Abigail Breslin
João Calvino dizia que a vida de uma pessoa já estava predestinada desde o início. Cada passo que uma pessoa dá já estava marcada por Deus. Consequentemente se a alma de uma pessoa vai para os Céus ou para o Inferno já está marcada desde o início que seu coração começou a bater.
Alguns filmes já debaderam esta idéia (ou melhor, conceito). O exemplo mais notável deles é Magnólia (Paul Thomas Anderson - 1999). A vida de várias pessoas conectadas e, como sugere o prólogo do filme, as coincidências da vida. Se o filme fala de predestinação, consequentemente os acontecimentos tratados no filmes já estavam conectados.
Abro o texto com isso por uma só razão: para mostrar que M. Night Shyamalan (A Dama na Água, Fim dos Tempos) não é um diretor que filma histórinhas visando lucro -- correção, apenas lucro. Shyamalan também quer falar de temas universais, e, dentre esses, ele escolheu falar de religião, só para citar um. Neste ele também quer falar de predestinação. Aliás, esta é uma das palavras-chaves deste filme. As outras são Deus, fé e aliens.
Sinais conta a história de Graham Hess (Gibson), um pastor que acabou de perder sua esposa. Imediatamente após isso ele também perde sua fé e abandona sua congregação. Graham vive numa área rural com seus casal de filhos, Bo (Breslin) e Morgan (Culkin), e seu irmão, Merill (Phoenix). Um dia Graham acorda com gritos de Bo vindo da plantação de milho. Ao chegar lá, seu filho Morgan diz "Eu acho que Deus fez isso". Graham pergunta "O que?" e seu filho move a cabeça do pai em direção à um enorme círculo em meio aos milhos. Mais tarde, a família, já perturbada pelo acontecimento descobre que não foi um caso isolado -- ou obra de nerds que não conseguem mulheres, como Merrill diz. Está acontecendo no mundo todo. Logo a paranóia e o medo se estabelecem na casa e a falta de fé se apodera definitivamente de Graham. Agora é uma questão de sobrevivência.
Quem vai assistir esperando um filme de ação com lasers saindo das naves alienígenas, ou então com cinco notas como meio de comunicação entre humanos e ETs, ou mesmo com um alienígena horrível dizendo "ET phone home", vai gastar dinheiro -- ou espaço no HD do computador, de graça. Na verdade Shyamalan usa uma invasão alienígena como pano de fundo para algo maior, bem maior. Shyamalan quer nos mostrar conflitos psicológicos e familiares. Como algo como a falta de fé aliado à algo maior pode destruir a estabilidade (ainda mais quando ela não está tão estável assim). Shyamalan, através de seu roteiro afiado, quer mostrar o que acontece com um homem quando ele sente falta de algo, e não necessariamente sua fé. Vá esperando assistir um filme profundo e psicológico, sua tensão reside aí. Não existem cenas de ação, Shyamalan evita filmar isso. Quando há uma cena de combate físico, Shyamalan filma algo diferente, como uma lanterna.
Mel Gibson(em seu último filme em que atua como personagem principal, até a estréia de O Fim da Escuridão) faz um Graham prerfeito, com um olhar perdido em meio ao tempo-espaço, parecendo não dar conta do tamanho do problema ao seu redor, quero dizer, do globo terrestre. Joaquin Phoenix (Gladiador, A Vila) faz o papel mais carismático da trama. Mesmo adulto, ele também mostra uma faceta infantil (foi facilmente absorvido pelo medo que às crianças passaram a ter e incentiva Graham à tomar "atitudes insanas"). As crianças não decepcionam (mas também não fazem grande coisa). Rory Culkin (o sobrenome dele diz tudo, e olha que eu nem notei quando vi os créditos). Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine, O Amigo Imaginário) -- em seu primeiro filme -- faz uma excelente, para seus padrões, Bo.
Shyamalan aqui adota um estilo movimentado na primeira parte do filme, me lembrando um pouco Martin Scorsese (O Rei da Comédia, Ilha do Medo). Depois o filme assume um visual excessivamente shyamaliano: a câmera está normalmente parada ou filmando de fora, com alguma coisa atrapalhando a nossa visão, como uma grade ou folhas de plantas, o que se encaixa perfeitamente na proposta do filme, dando a impressão que alguém está observando-os (e de fato está).
A fotografia do mestre Tak Fujimoto (Terra de Ninguém, O Silêncio dos Inocentes) aliada com a música de James Newton Howard (Eu Sou a Lenda, Conduta de Risco) causam um efeito de terror avassalador, mesmo nas cenas em que a câmera anda parada. Fujimoto utiliza maravilhosamente o efeito de luz e sombra, fazendo lembrar, por vezes, o mestre Vittorio Storaro (O Último Imperador, Prequela de O Exorcista).
Eu sigo com aquela de que a crítica persegue desnecessariamente M. Night. Sinceramente não vejo necessidade de montar uma inquisição contra o diretor indiano. Por que? Do mesmo modo que a crítica não sabe reconhecer as qualidades de Shyamalan, exagera, exalta, coloca num pedestal e se curva até onde não pode mais, a imagem de Quentin Tarantino. Eu estou exagerando? Bom, basta ver que Sinais, assim como Embriagado de Amor e Ilha do Medo é um filme aberto a interpretações. Quantos filmes se abrem para fazer isso hoje em dia? Dá para contar nos dedos. Bom, claro que o filme tem suas falhas, mas isso é mais na direção de atores que Shyamalan faz. Por exemplo: ele insiste, quase obrigando aos atores ficarem enquadrados no meio da cena, forçando-os a olharem para a câmera, mesmo quando não querem, incomodando tanto a quem assiste como a quem atua. Fora isso o filme não trás maiores imperfeições incomodativas.
Aproveitem esta oportunidade e assistam o filme com a mente aberta, pois assim vocês poderão sentir o medo que eu senti, assim como aquelas quatro pessoas no centro da sala de estar à noite longe da civilização com aliens-demônios na porta disaj (viram? Eu estou escutando Won't Get Fooled Again e o CD falhou e eu me assustei. Jurei que fosse um alien. Vou recomeçar:) com aliens-demônios na porta da sua casa.
E vocês também dirão "Está acontecendo."
Nota: 4 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
Alguns filmes já debaderam esta idéia (ou melhor, conceito). O exemplo mais notável deles é Magnólia (Paul Thomas Anderson - 1999). A vida de várias pessoas conectadas e, como sugere o prólogo do filme, as coincidências da vida. Se o filme fala de predestinação, consequentemente os acontecimentos tratados no filmes já estavam conectados.
Abro o texto com isso por uma só razão: para mostrar que M. Night Shyamalan (A Dama na Água, Fim dos Tempos) não é um diretor que filma histórinhas visando lucro -- correção, apenas lucro. Shyamalan também quer falar de temas universais, e, dentre esses, ele escolheu falar de religião, só para citar um. Neste ele também quer falar de predestinação. Aliás, esta é uma das palavras-chaves deste filme. As outras são Deus, fé e aliens.
Sinais conta a história de Graham Hess (Gibson), um pastor que acabou de perder sua esposa. Imediatamente após isso ele também perde sua fé e abandona sua congregação. Graham vive numa área rural com seus casal de filhos, Bo (Breslin) e Morgan (Culkin), e seu irmão, Merill (Phoenix). Um dia Graham acorda com gritos de Bo vindo da plantação de milho. Ao chegar lá, seu filho Morgan diz "Eu acho que Deus fez isso". Graham pergunta "O que?" e seu filho move a cabeça do pai em direção à um enorme círculo em meio aos milhos. Mais tarde, a família, já perturbada pelo acontecimento descobre que não foi um caso isolado -- ou obra de nerds que não conseguem mulheres, como Merrill diz. Está acontecendo no mundo todo. Logo a paranóia e o medo se estabelecem na casa e a falta de fé se apodera definitivamente de Graham. Agora é uma questão de sobrevivência.
Quem vai assistir esperando um filme de ação com lasers saindo das naves alienígenas, ou então com cinco notas como meio de comunicação entre humanos e ETs, ou mesmo com um alienígena horrível dizendo "ET phone home", vai gastar dinheiro -- ou espaço no HD do computador, de graça. Na verdade Shyamalan usa uma invasão alienígena como pano de fundo para algo maior, bem maior. Shyamalan quer nos mostrar conflitos psicológicos e familiares. Como algo como a falta de fé aliado à algo maior pode destruir a estabilidade (ainda mais quando ela não está tão estável assim). Shyamalan, através de seu roteiro afiado, quer mostrar o que acontece com um homem quando ele sente falta de algo, e não necessariamente sua fé. Vá esperando assistir um filme profundo e psicológico, sua tensão reside aí. Não existem cenas de ação, Shyamalan evita filmar isso. Quando há uma cena de combate físico, Shyamalan filma algo diferente, como uma lanterna.
Mel Gibson(em seu último filme em que atua como personagem principal, até a estréia de O Fim da Escuridão) faz um Graham prerfeito, com um olhar perdido em meio ao tempo-espaço, parecendo não dar conta do tamanho do problema ao seu redor, quero dizer, do globo terrestre. Joaquin Phoenix (Gladiador, A Vila) faz o papel mais carismático da trama. Mesmo adulto, ele também mostra uma faceta infantil (foi facilmente absorvido pelo medo que às crianças passaram a ter e incentiva Graham à tomar "atitudes insanas"). As crianças não decepcionam (mas também não fazem grande coisa). Rory Culkin (o sobrenome dele diz tudo, e olha que eu nem notei quando vi os créditos). Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine, O Amigo Imaginário) -- em seu primeiro filme -- faz uma excelente, para seus padrões, Bo.
Shyamalan aqui adota um estilo movimentado na primeira parte do filme, me lembrando um pouco Martin Scorsese (O Rei da Comédia, Ilha do Medo). Depois o filme assume um visual excessivamente shyamaliano: a câmera está normalmente parada ou filmando de fora, com alguma coisa atrapalhando a nossa visão, como uma grade ou folhas de plantas, o que se encaixa perfeitamente na proposta do filme, dando a impressão que alguém está observando-os (e de fato está).
A fotografia do mestre Tak Fujimoto (Terra de Ninguém, O Silêncio dos Inocentes) aliada com a música de James Newton Howard (Eu Sou a Lenda, Conduta de Risco) causam um efeito de terror avassalador, mesmo nas cenas em que a câmera anda parada. Fujimoto utiliza maravilhosamente o efeito de luz e sombra, fazendo lembrar, por vezes, o mestre Vittorio Storaro (O Último Imperador, Prequela de O Exorcista).
Eu sigo com aquela de que a crítica persegue desnecessariamente M. Night. Sinceramente não vejo necessidade de montar uma inquisição contra o diretor indiano. Por que? Do mesmo modo que a crítica não sabe reconhecer as qualidades de Shyamalan, exagera, exalta, coloca num pedestal e se curva até onde não pode mais, a imagem de Quentin Tarantino. Eu estou exagerando? Bom, basta ver que Sinais, assim como Embriagado de Amor e Ilha do Medo é um filme aberto a interpretações. Quantos filmes se abrem para fazer isso hoje em dia? Dá para contar nos dedos. Bom, claro que o filme tem suas falhas, mas isso é mais na direção de atores que Shyamalan faz. Por exemplo: ele insiste, quase obrigando aos atores ficarem enquadrados no meio da cena, forçando-os a olharem para a câmera, mesmo quando não querem, incomodando tanto a quem assiste como a quem atua. Fora isso o filme não trás maiores imperfeições incomodativas.
Aproveitem esta oportunidade e assistam o filme com a mente aberta, pois assim vocês poderão sentir o medo que eu senti, assim como aquelas quatro pessoas no centro da sala de estar à noite longe da civilização com aliens-demônios na porta disaj (viram? Eu estou escutando Won't Get Fooled Again e o CD falhou e eu me assustei. Jurei que fosse um alien. Vou recomeçar:) com aliens-demônios na porta da sua casa.
E vocês também dirão "Está acontecendo."
Nota: 4 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
1 comentários:
Hahaha, tenso esse último parágrafo....
Esse filme me surpreendeu mesmo, assim como Corpo Fechado eu achei que seria um filme bobo, clichê de aliens, mas acabei gostando bastante....
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