W.
W., 2008
Dirigido por Oliver Stone
Escrito por Stanley Weiser
Com Josh Brolin, Elizabeth Banks, James Cromwell, Richard Dreyfuss
Quando você vir um filme com o letreiro "An Oliver Stone Film" após Entre o Céu e a Terra (Heaven & Earth, 1993) , fique de olhos bem abertos, pois provavelmente será um filme pseudo-polêmico e que lhe fará ter dores de cabeças fortíssimas.
Ao contrário do que muitos possam pensar, Oliver Stone não é um grande cineasta como a maioria dos críticos e das pessoas possam imaginar. Oliver Stone é um cineasta médio. Isso não é de todo ruim, pois um cineasta médio consegue até entreter a platéia sem ser medíocre, mas Stone parece ainda viver no seu tempo de glória, quando fazia filmes do calibre de JFK (1994) ou Nascido em 4 de Julho (1989). Stone não é mais o mesmo, e eu vou dizer por que. Ele tem uma ânsia quase que incontrolável de ser o mais polêmico possível e usar o máximo de recursos virtuais que ele conseguir encontrar. Filtro de cores, imagens sobrepostas, câmeras que variam do 35mm ao Super 8... isso, quando utilizado gratuitamente pode fazer o espectador desmaiar. Uma crítica que eu li sobre Um Domingo Qualquer (1999) dizia que um dos espectadores saiu do cinema dizendo "Nossa! É muito louco!". O espectador não era um adolescente que quando vê 2012 (2009) diz que é o melhor filme do mundo, mas sim uma adorável velhinha com dor de cabeça.
(Sim, ao que parece, caro leitor, esse texto será uma revisão da carreira de Stone, já que é a minha primeira crítica sobre qualquer um dos filmes do cineasta.)
Stone começou, em Platoon (1986) como um simplório cineasta, que não abusava de filtros de cor nas câmeras, mas sabia jogar com o que o ambiente lhe dava (até hoje ele faz isso bem), méritos ao diretor de fotografia Robert Richardson (O Aviador e Neve Sobre os Cedros). Mas parece que Stone foi aumentado a ânsia de chocar o espectador com qualquer filme que fizesse. Talvez o filme que Stone conseguiu utilizar (ou controlar) melhor seu desejo de utilizar cores e câmeras seja em Nascido em 4 de Julho, onde do nada uma simples tomada de câmera vira uma imagem na TV.
Como dito anteriormente, Stone também tem o desejo de ser polêmico, ou chocante, ou qualquer coisa que faça você dizer "Caramba!". É realmente necessário o cinasta mostrar um jogador perdendo um globo ocular em Um Domingo Qualquer? Aliás, isso existe? Talvez seu desejo de ser polêmico só conseguiu se encaixar bem na sua obra-prima JFK, onde, vai ver, nem era sua intensão, ,mas, mesmo assim, é uma obra bem tendenciosa. Deste filme para filme para frente Stone deslancha para edições confusas e estranhas.
Realmente não há outro meio de iniciar essa crítica sem um longo prólogo. Para que? Para vocês notarem como Stone mudou seu jeito de filmar. Entre a edição conufusa de Um Domingo Qualquer e a simples (mas arrastada) de Alexande (2004), eu sou muito mais a edição do segundo filme. Não me fez ter dores de cabeça.
Parece que alguém jogou uma pedra na cabeça do cineasta nova-iorquino e ele se tocou que, apesar de difícil e bela (sim, é bonito de se ver) seu estilo não se encaixa nos filmes que vinha propondo. Stone tentou em seus três últimos filmes ser mais normal. Se por um lado seus trabalhos ficaram mais normais, não se pode dizer sobre a qualidade. Alexandre é... bem, é Alexandre, uma mistura de Stone em Nixon com Gladiador (2000). As Torres Gêmeas (2006) é um filme longo, cansativo e que não leva nada a lugar nenhum (Oliver não é um cineasta que consegue filmar de modo criativo dois caras enterrados sob sete metros de escombro duarante um dia inteiro).
(Agora, depois dessa longa jornada de conhecimento "stoneano", podemos finalmente discutir o filme.)
Finalmente chegamos a W., a cidade perdida -- digo -- o filme de Stone. A obra conta a história do passado e do "menos presente" do ex-presidente do grande demônio ocidental -- os Estados Unidos -- George W. Bush. O filme mostra como Bush (Brolin) deixou de ser um mauricinho encrenqueiro, bêbado, degenerado e preguiçoso para se tornar um homem responsável. Em resumo, um homem renovado. Como não poderia deixar de ser, o filme também aborda as ações do presidente. Na verdade o filme se atém apenas em mostrar a polêmica invasão do Iraque.
É interessante observar como o filme insiste em mostrar George como um típico texano, falando de boca cheia e que gosta de uma boa caçada (falta apenas ele cuspir fumo no chão para ser um cowboy). De fato o filme prefere mostrar a transição de W. de um garoto mimado e encrenqueiro para um homem responsável. Mesmo assim Bush nunca deixa de ser perseguido pela má educação e, principalmente, pela sombra do pai, o ex-presidente George H. W. Bush (Cromwell).
Há dois modos de se olhar o filme. O primeiro modo é com os olhos da época da obamamania, quando todos estavam com facas na mão a ponto de matar George W. Bush, quando as agências de notícia reprisavam os piores momentos do presidente.
O segundo olhar é agora, quando nos armamos de novo para matar Barack Obama. Quando os conspiradores o apontam como o novo Anticristo (é engraçado que também chamavam Bush de demônio). Recentemente o Saturday Night Live brincou com isso, quando um dos convidados, vestido como o presidente negro, disse: "Parem de me pintar como o coringa! Mas se bem que... vamos ver minhas promessas: Eu fechei Guantánamo? Não. Eu melhorei a saúde? Também não. Eu reverti a crise? De jeito nenhum! Mas fazer nada é fazer alguma coisa."
Se nós olharmos com o primeiro olhar... vamos dizer que Stone se esqueceu de colocar as trapalhadas do texano na Casa Branca. Se olharmos com o segundo olhar... vamos dizer que está de bom tamanho. Mas existe o terceiro olhar: o olhar do crítico.
Stone não conseguiu fazer uma boa edição. Ele intercala o passado e o presente na história, e isso não faz o filme andar de jeito nenhum. Não se constrói um arco narrativo bom, o que deixa o filme meio que "anestesiado", passando diante dos nossos olhos de uma forma morna. Não estou dizendo que o filme é um chute entre as pernas -- por que existem sim muitas sequencias primorosas --, mas... bom, basta notar que o filme se torna mais emocionante e interessante justamente no seu final, com as consequências da invasão ao novo Vietnã, o Iraque.
Agora vamos ao mais interessante em todo o filme. As atuações. Se nem o roteiro de Stanley Weiser (Wall Street) ou a direção de Stone convencem, Josh Brolin e James Cromwell fazem um trabalho sensacional como Bush filho e Bush pai, respectivamente. Se destacando entre uma gama enorme de personagens e surgem e somem sem dar aviso (duvido se você adivinha de primeira quem é Tony Blair no filme).
Nas mãos de alguém como Tony Gilroy (Conduta de Risco) o filme seria brilhante, uma grande biografia de um polêmico presidente. Mas mesmo assim nota-se o esforço de Stone em fazer um drama político sério. Quando a câmera está numa reunião (muitas, por sinal) ela é calma e séria, adotando um cor que eu chamo de azul-Ridley Scott. Agora na época de maluquices do ex-presidente Stone adota uma hand-held abusada e gratuita. Eu sempre fui contra o uso gratuito da hand-held. Eu achei que um fotógrafo como Phendon Papamichael (Identidade, O Sol de Cada Manhã) fosse alertar o Stone disso.
Após o filme eu pensei "É, nada mal. Podia ser melhor, mas não é ruim." Um bom drama político vindo de um diretor não tão bom assim.
Nota: 3 estrelas em 5
Por Victor Bruno
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