Gosto de Sangue
Blood Simple, 1984
Dirigido por Joel Coen (e Ethan Coen, não creditado)
Escrito por Joel Coen e Ethan Coen
Com John Getz, Frances McDormand, Dan Hedaya, M. Emmet Walsh
O que dizer sobre os Coen? É uma pergunta difícil... podemos classifica-los como cineastas que gostam de brincar com gêneros, sempre flertando com o noir e com as comédias escrachadas, ou podemos classifica-los como cineastas sérios que apenas bancam os palhaços em filmes como Arizona Nunca Mais e Matadores de Velhinhas? Eu acredito mais na primeira hipótese, o que prova que um diretor pode sim brincar com gêneros.
Aliás, brincar com gêneros é o que esses irmão de Minneapolis sabem fazer de melhor, e provam isso com maestria no seu primeiro filme, Gosto de Sangue, uma brilhante mistura do noir tão em voga na época de ouro de Hollywood com um Western meio disfarçado. É um neo-noir. Os irmãos Joel e Ethan admitem nesse primeiro filme uma fixação pelo gênero dos anos 40-50.
A história bem que poderia ser de um filme estrelado por Humpery Borgat: um dono de bar chamado Julian (Hedaya) suspeita que sua esposa Abby (McDormand) está o traindo. E de fato está. Ela anda dormindo com Ray (Getz), um funcionário do bar de Julian. O marido traído pede os serviços do detetive particular Loren Visser (Walsh), para tirar fotos dos dois e assim confirmar suas suspeitas. Após descobrir a verdade, Julian, agora um homem gélido, pede que o detetive "apague" os dois. A partir daí a história toma rumos trágicos.
A direção dos Coen está espetacular. Os dois prestam homenagem aos grandes filmes do gênero, como Pacto Sinistro, de Hitchcock. Na verdade, a dupla consegue trazer um efeito de terror tão grande que o crítico Mark Bourne diz que "Você consegue sentir alguém respirando nas suas costas", e eu concordo plenamente.
O roteiro -- inspirado -- dos Coen também não decepciona. Diálogos carregados são primorosos. Vale ilustrar a crítica com o voice over do detetive Loren Visser:The world is full o' complainers. An' the fact is, nothin' comes with a guarantee. Now I don't care if you're the pope of Rome, President of the United States or Man of the Year; somethin' can all go wrong. Now go on ahead, y'know, complain, tell your problems to your neighbor, ask for help, 'n watch him fly. Now, in Russia, they got it mapped out so that everyone pulls for everyone else... that's the theory, anyway. But what I know about is Texas, an' down here... you're on your own.
Agora os atores. Dan Hedaya, assim como M. Emmet Walsh estão sensacionais. Hedaya passa uma expressão de ódio/rancor/frieza que faz gelar a espinha. John Getz está bom, assim como Frances McDormand. De qualquer forma a mulher de Joel Coen passa uma expressão de terror quando o filme vai chegando ao seu final. É neste ponto que McDormand melhora consideravelmente a qualidade da sua atuação.
Barry Sonnenfeld faz um trabalho senssacional na fotografia de Blood Simple (indicado ao Independent Spirit Award de melhor fotografia). O filme tem um honesto tom pastel que brinca com o jogo de luz e sombra, lembrando os melhores filmes noir, assim como os filmes de Scorsese, onde uma luz branca explode na tela. Vale dar nota também a edição de Roderick Jaynes (os Coen disfarçados) e Don Wiegmann, que está correta (mas tem de se admitir que a Versão do Diretor lançada em 2004 faz o filme fluir melhor).
Um grande exemplar do gênero neo-noir, os Coen provando que não é necessário milhões para fazer um grande filme. Sensacional, mesmo com alguns buracos na trama.
Nota: 3 estrelas em 5
Por Victor Bruno
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