sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Amante de Lady Chatterley

Lady Chatterley , 2006 / Dirigido por Pascale Ferran

Com Marina Hands, Jean-Louis Coullo’ch, Hippolyte Girardot, Hélène Alexandridis, Hélène Fillières e Christelle Hes.


(3/5)

Lady Chatterley é um filme complicado, não pela história e temática, mas pela forma como ele é conduzido para os dias de hoje. Baseado num romance polêmico escrito pelo inglês D. H. Lawrence em 1928, onde uma mulher da alta burguesia se relaciona com um homem da classe trabalhadora pobre e empregado da família. Para a época, o livro continha cenas de sexo explícito e continham palavras que não eram aceitas pela sociedade, além do próprio relacionamento entre classes tão diferentes, que era menos aceito ainda devido ao preconceito ainda muito presente.

O filme conta, do ponto de vista da Lady Chatterley, a história de seu envolvimento com um guarda-caça da família. Depois da guerra, seu marido, um tenente do exército britânico volta de cadeira de rodas, o que gera nela grande solidão e a faz procurar coisas a fazer enquanto o marido se preocupa exclusivamente com uma mina que ele administra. Nisso, incumbida de dar uma ordem ao caçador da família, descobre uma casinha simples em um lugar muito bonito e rodeado por animais e natureza. Lá, o homem rústico de nome Parkin (Jean-Louis Coullo’ch, que lembra muito de perfil Marlon Brando) toma conta do local, é o caçador de animais para a família da Lady. Por causa da beleza do local e de um problema que pode ser um câncer hereditário, ela passa a visitar a casa onde Parkin trabalha e, aos poucos, desenvolve uma amizade que vai ficando cada vez mais intensa a ponto de despertar uma paixão entre eles.

Ao mesmo tempo em que o filme consegue pontos pela escolha inteligente do diretor em retratar o sexo de maneira não tão explícita (poderia muito bem ser um filme erótico) e dar mais atenção aos conflitos do casal e preocupações em relação à uma possível descoberta que poderia ser catastrófica, o filme também peca, pois, há pouca profundidade entre eles, tudo parece muito simples e artificial, não parece haver realmente uma preocupação entre eles e os outros. As conversas sobre o “proibido” romance entre eles soam rasas como se fosse, para a época, algo muito normal e natural, sem qualquer relevância. Não li o livro, mas este filme de Pascale Ferran não consegue passar o que se deve passar. O motivo de soar inteligente a escolha de não explicitar tanto o sexo e torná-lo banal é que hoje em dia o sexo está banalizado e, se fosse feito um filme da forma que o livro propõe, seria apenas mais um filme dentre muitos outros sendo que, antes desse, há cerca de mais de dez filmes sobre o mesmo livro.

Há muitas cenas lentas, aliás, o filme é bastante lento, com muitas cenas contemplativas mostrando florestas, ações comuns e banais envolvendo a tal Lady Chatterley, como ela bebendo água de uma fonte a qual cruza sempre que vai à casa do guarda-caça. O foco, mesmo no início do filme revelando ter sido escrito pelo amante de Chatterley, é totalmente nela, algo bastante curioso, pois, não sabemos como ele sabe ou soube tanto da vida dela, já que o filme não explora as conversas íntimas que os dois têm entre si.

O maior foco de Ferran é em mostrar a lentidão e a solidão de Chatterley perante a situação em que se encontra. Outro foco interessante é na descoberta de Chatterley no sexo mais profundo e íntimo e cultivado pelo real amor, algo que dá a impressão de que ela nunca vivenciou, como quando ela pede para que ele fique nu para ela antes da relação para que ela pudesse observá-lo, já que as relações que eles tiveram foram todas preocupadas e de certa forma tímida, vestidos e o clima sendo pouco explorado. O que salva o filme do total fracasso é realmente essa descoberta do íntimo, do carnal e do amor, pois o filme consegue ter um final estranhamente horroroso.

Os seus mais de 160 minutos poderiam com certeza terem sido muito melhor explorados. O romance pouco convence, dá a impressão de que eles estão fora da realidade para a época (ou talvez estariam). Falta realismo. Por um ponto de vista o filme é válido, tem seus méritos, por outro, é somente mais um filme que não leva a lugar algum e, depois que sai do lugar simplesmente pára. Os fatos finais acontecem rapidamente enquanto a trama do filme se desenrola demasiadamente lenta.

Por Pedro Ruback

29/04/2011

3 comentários:

Olá Pessoal,

Encontramos esse belo espaço e por isso resolvemos segui-lo pelo blogroll do nosso ‘O Teatro Da Vida’.

Abraços,

Jonathan Pereira

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