sábado, 15 de maio de 2010

Além da Linha Vermelha


Além da Linha Vermelha
The Thin Red Line, 1998
Dirigido por Terrence Malick
Roteiro por Terrence Malick (Baseado no livro de James Jones)
Com Sean Penn, Jim Cavizel, Elias Koteas, Nick Nolte, Ben Chaplin

Terra de Ninguém, bom. Cinzas no Paraíso, excelente. Além da Linha Vermelha, perfeito.

Terrence Malick é um filósofo que ministra aulas em forma de filmes. Seu cinema não é para qualquer um. Não é mero entretenimento comercial. Nunca será. Sua câmera calma e lenta, que vasculha o cenário nos proporcionando um esplendor visual maravilhoso é inigualável. Este é o perfeito em seu estilo, a atenção aos detalhes; ou melhor a falta dele. Seu jeito de ser minimalista se encaixa perfeitamente na sua proposta: a ação do homem em meio a natureza.

Ele já havia explorado a natureza nos seus dois filmes anteriores. Em Terra de Ninguém (1973) ele apenas experimentou o gosto e nos deu uma prévia da natureza, por que ele só nos mostrou do que era capaz em Cinzas no Paraíso (que por algum motivo foi lançado em DVD como Dias no Paraíso, 1978): filmar a natureza de forma bela e em todo o seu esplendor.

Mas Malick só chega ao máximo mesmo neste Além da Linha Vermelha. Tomadas sub-aquáticas, cenas na floresta, em canaviais, o vôo dos pássaros, tudo é fantásticamente filmado. Se o filme não fosse bom, pelo menos poderíamos passar as duas horas e 50 minutos desta obra apenas conferindo seu belo visual, esplendorosamente fotografado por John Toll (O Homem que Fazia Chover, Coração Valente).


Malick nos conta a história da história da Companhia Charlie e sua jornada na infame Batalha de Guadalcanal. Guadalcanal, era importante ponto no Pacífico. Neutralizando o ponto todo o poderio japonês poderia ser fácilmente destruído. A Companhia liderada pelo capitão Staros (Koteas) se embrenha na mata fechada da Ilha para conquista-la, não importa "quantas vidas sejam necessárias".

A partir daí o diretor fala de cada homem dentro da guerra, ou melhor, a guerra dentro de cada homem. Como diz o pôster, cada homem luta sua própria guerra. Ela pode ser mais violenta do que a guerra real. O soldado Bell (Chaplin), por exemplo, era um homem de patente que por causa do seu amor pela esposa foi rebaixado a cabo. Como um homem pode enfrentar a guerra assim?

Malick também faz questão de nos mostrar como a guerra, qualquer guerra, é degradante. A uma certa altura do filme o Sargento Walsh (Penn) diz: "Eu olho para um garoto morrendo e não sinto nada. Eu não sinto mais nada por ninguém" e o Sargento Storn (John C. Reilly) responde "Soa como uma benção."

Muitos críticos criticaram (desculpe a redundância) o filme por mostrar soldados filosofando. Não considero filosofia. Eu creio que num momento de tamanha violência a força é esmagadora ao ponto de nos questionar "Isso é realmente necessário". Toda a força destrutiva da guerra nos faz refletir. Você mata um homem e sente algo? "Eu matei um homem, ninguém pode me tocar por isso." A paz da natureza quebrada pelo homem.


A edição do filme, que a primeira vista pode ser terrívelmente lenta, é perfeita para a propósta da obra. Quem vai esperando assistir um filme de guerra cheio de ação e homens morrendo com os membros sendo arrancados durante duas horas vai achar o filme maçante. É um filme reflexivo. Como li em algumas críticas, não é um filme de guerra e sim sobre a guerra. A guerra dentro de cada um de nós. Se Malick e seus três editores (Leslie Jones, Saar Klein e Billy Weber) fizeram o serviço direito a versão de seis horas do filme (que está indisponível) deve ser tão boa quanto esta original.

Outro ponto importante do filme é a sua excelente trilha sonora de Hans Zimmer, que fiz questão de comprar. Um componente de luxo em um filme perfeito. A música God, Yu Tekem Laef Blong Mi, cantada por um coro malasiano é simplesmente fantástica. Soa como o paraíso.

O filme está recheado de estrelas, muitos fazendo apenas pontas de 5 minutos, como George Clooney. Eu li que isso só tornou o filme ainda mais pretencioso. Pretencioso? Por que algum diretor pagaria um cachê milionário só para ter cinco minutos com George Clooney. Na verdade os atores se ofereceram voluntáriamente para participar do filme. E eles não fazem feio. Como o filme usa e abusa de close-ups, os atores deve estar preparados para encarnar suas personagens o máximo possível. Elias Koteas, Jim Cavizel e todos os outros realmente parecem estar passando por todo aquele sofrimento. Não sei o que Malick fez, mas funcionou direitinho.

Falando sobre a direção, Malick constrói um filme colorido. O belo take com os soldados correndo em meio as explosões quando uma singela borboleta azul aparece torna o filme ainda mais belo. Involuntário ou não, é lindo.

Todo homem luta sua própria guerra. Todo homem tem suas dúvidas, incertezas. Todo conflito que leva homens a matarem outros homens é ridículo e desnecessário. Tudo o que furta a paz é terrível. Só Malick poderia fazer da guerra uma obra de arte filosófica.

Nota: 5 estrelas em 5

Por Victor Bruno

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