2001: Uma Odisséia no Espaço
2001: A Space Odyssey
Dirigido por Stanley Kubrick
Roteiro de Stanley Kubrick & Arthur C. Clarke
Com Daniel Richter, William Sylvester, Keir Dullea, Gary Lockwood
Você entendeu? O que eu quis dizer nos parágrafos acima? Qual é a semiótica do que quis dizer? Eu quis falar que você fica sem palavras quando termina de assistir esta bela obra do cineasta mais genial de todos os tempos? Ou será que eu quis dizer que o filme não diz nada de nada nos seus 141 minutos? Ou será que eu disse que o filme é fechado as interpretações? Ou será que eu disse que o buraco entre a ficha técnica e esse parágrafo é o mesmo buraco aberto para as críticas, interpretações e teorias sobre esta dose cavalar de intelectualidade e genialidade? Por que o intuito de Kubrick e o co-roteirista Arthur C. Clarke é nos metralhar com milhões de perguntas de forma que não poderíamos responder? E por que eu não escrevi uma crítica e sim um parágrafo em que todas as frases terminam com uma interrogação? Será que é por que eu quis seguir o modelo de Kubrick e desafiar as normas de uma crítica normal? Será que existem respostas para 2001? Eu não sei, e como o agnosticismo estríto, você também não sabe. Ou será que não?
Nota: 5 estrelas em 5
Por Victor Bruno
8 comentários:
Pode crer. A dúvida é a mãe de todo o conhecimento.
ahuauhauhauh genial victoor!! quando eu vi os parágrafos em branco sabia extamente que era isso que você queria dizer!
sem palavras.
absolutamente GENIAL!
Obrigado à todos que gostaram da crítica e do filme.
Genial mesmo.
Uma vez na faculdade o professor encomendou um trabalho sobre o tema "mentira". Um aluno entregou um trabalho encadernado com capa e espiral onde aparecia o título "A Mentira", mas onde todas as outras folhas estavam em branco. O prof achou "genial" de deu 10 pro cara. Mas como ficaram os outros(eu inclusive), os que tinham ralado horas pesquisando, escrevendo, lendo textos e refletindo verdadeiramente sobre o tema?
Livros inteiros já foram escritos sobre a mentira, assim como incontáveis críticas e ensaios foram escritos sobre '2001'. Será que todo esse esforço vale menos do que uns espaços em branco? O filme vem sendo debatido há mais de 40 anos, e ainda não esgotamos seu significado. Acho que merecia, sim, uma crítica escrita, uma reflexão que--quem sabe?--poderia ajudar algum leitor a entender melhor a grande obra do Kubrick.
Eu me dedico a 'decifrar' esse filme praticamente desde que foi lançado, e ainda assim continuo aprendendo coisas sobre ele graças ao contato com outros entusiastas. Mas laudas em branco podem ser uma espécie de "statement" criativo, mas não me acrescentam muita coisa... Espero pelo dia em que o Victor se sinta pronto para realmente fazer uma critica desse grande filme.
Luiz, tudo bem, você tem todo o direito de criticar a minha crítica (desculpe a redundância), mas você é o mesmo homem que diz que '2001' é um filme atemporal. Por que não montar então uma crítica atemporal (desculpe a pretenção), ou no mínimo diferente, aberta como o filme.
Creio eu que tudo relacionado ao filme '2001' deve ser filosófico, ou aberto a interpretações. Não quero ser pretencioso ou "o diferentão", mas acho muito mais interessante montar um texto totalmente em branco, aparentemente vazio com uma pequena nota de rodapé embaixo do que uma crítica "comum" mostrando o que eu penso sobre o filme e suas qualidades e defeitos. Não pretendo ser sempre assim, mas este filme é uma excessão.
Tenho total respeito pelo seu empenho em responder as questões da obra de Kubrick, compreender aquilo é uma jornada hercúlea, e posso dizer que tenho inveja do seu empenho, mas parece que você não tentou compreender a minha crítica, apesar de dizer abertamente em que as pessoas devem tentar compreender o que dizem aqueles parágrafos em branco. Na verdade eu prefiro considerar o texto como algo que todos podem responder, pois penso que '2001' é um filme para todos, por que não também uma crítica onde todos possam escrever? Gosto de ver que ali, naquele espaço em branco, é onde todos podem rabiscar seus pensamentos, como pode bem não ser.
P.S.: Deve ter sido difícil de engolir que um cara que não escreveu nada ganhou 10 e você que ralou ganhou uma nota comum, mas veja que a mentira são palavras vazias, mesmo sendo palavras. Dependendo do contexto eu -- se fosse o professor -- teria dado 10 também. Originalidade é tudo.
Victor, a questão das "obras em branco" não é nova; quadros em branco apareceram por toda parte durante o século XX, chegando ao ponto de virarem uma anedota bastante comum(veja o filme 'Bar Brasil', por exemplo, onde un artista monta uma exposição de quadros em branco no banheiro do bar). Recentemente os curadores da Bienal de SP deixaram um andar inteiro totalmente vazio("em branco", por assim dizer), alegando tratar-se de uma alegoria do "vazio existencial" ou tolice do gênero. A meu ver, quem realmente tinha algo a dizer ali foi a pobre pichadora que amargou uns 2 meses de cadeia por fazer o que a maioria de nós gostaria de ter feito diante de tamanha pretensão da curadoria... Às vezes um espaço vazio é apenas isso: um lugar onde não há nada, nem obras de arte, nem idéias, nada.
Ao deixar sua crítica em branco me parece que voce quer dizer que não há palavras que possam estar à altura da obra do Kubrick, ou pelo menos não palavras que voce consiga encontrar. Discordo dessa posição, ainda que entenda a sua intenção. Mas deixar espaços em branco não acrescenta coisa alguma à compreensão do filme---que em si já é um desafio para qualquer um que o assista---e no meu entender o papel do crítico é justamente o de oferecer ao leitor uma chance de compreender a obra analisada, e não criar outra "obra" a ser decifrada.
Quanto à mentira, engana-se se acha que se trata de "palavras vazias". Ora, a mentira faz parte do cotidiano, está enraizada não apenas na nossa cultura, na nossa política(que é um verdadeiro castelo de mentiras, que não existiria sem mentiras)e na nossa própria psique---quem de nós não mente até para si mesmo?---e até na natureza, onde animais se camuflam, mudam de forma e se fingem de mortos para sobreviver.
Portanto acho que o velho professor por mais encantado que tenha ficado com a 'pegadinha' do colega, errou ao dar nota máxima a um trabalho que, em termos culturais e acadêmicos(lembremos que universidades são lugares de ensino e não galerias de arte) não tinha nada a acrescentar. Conhecimento é tudo.
OK, mas nós estamos tratando de uma obra de arte, cinema é arte (mesmo que os atuais diretores não tratem com o devido respeito).
Por que não a crítica também não fundir arte e conhecimento. É uma reflexão.
Uma obra em branco é uma coisa, um "statement" criativo, desde que convenha ao momento ou a proposta. Um andar inteiro é outra completamente diferente.
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