Harry Potter and the Deathly Hallows: Part II, 2011/ Dirigido por David Yates
Com Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Michael Gambon, Maggie Smith, Helena Bonham Carter, Ciarán Hinds, Robbie Coltrane, John Hurt, Emma Thompson, Jim Broadbent, Kelly McDonald e Gary Oldman.
1/5
15 de julho de 2011. Uma data que ficará marcada para muitos, afinal de contas chega ao fim uma das séries mais adoradas e rentáveis da história do cinema. "Harry Potter" acabou de vez e, a não ser por algum eventual devaneio de J.K. Rowling, não voltará. Eis que surge então a inevitável pergunta: Harry Potter e as Relúquias da Morte: Parte II faz jus à série? A resposta é não. Na verdade, não somente ele não oferece um final digno para a importância da saga, como nem mesmo um bom filme chega a ser.
Mesmo não sendo um fã de "Harry Potter", acompanhei os sete filmes anteriores, e li os quatro primeiros livros. De todos, apenas dois filmes haviam me agradado plenamente: O Prisioneiro de Azkaban, de Alfonso Cuarón (disparado o melhor de todos) e O Enigma do Princípe, de David Yates. De qualquer forma, a despeito da qualiade bastante duvidosa dos outros filmes, a série alcançou um nível de reconhecimento notável por parte do público, logo era de esperar a expectativa de muitos com este último filme, também dirigido por David Yates (que também teria aqui a chance de se redimir da confusa e tediosa Parte I de As Relíquias da Morte).
E o que encontramos nesta Parte II? Uma tentativa desesperada de Yates em criar um grande épico, um filme marcante e, neste sentido, até que começa bem. Os primeiros diálogos, com Griphook (Warwick Davis) e o Sr. Olivaras (John Hurt, sempre ótimo) são excelentes, muito bem executados em termos de roteiro e posicionamento de câmera. A seqüência no Banco Gringotes, aonde Harry, Rony e Hermione acreditam que está uma Horcrux (obejto que contém uma das partes da alma de Voldemort) é bem conduzida por Yates, com a dose certa de ação e tensão, além de ser um trabalho impecável tecnicamente (tanto por parte da fotografia de Eduardo Serra, belíssima, quanto da equipe de efeitos visuais).
Daí em diante, o filme segue ladeira abaixo. O roteiro parece ter sido sacrificado na busca de David Yates em realizar um show pirotécnico, um festival de luzes, barulho e explosões sem qualquer emoção. É incrível como a batalha de Hogwarts, que deveria ser o grande momento da saga, não empolga um segundo sequer, e qualquer comparação com as batalhas de "Os Senhor dos Anéis" chega a ser uma ofensa às adaptações de Peter Jackson. Em As Relíquias da Morte, há varinhas para cá, varinhas para lá, um morto sucumbe aqui, outro acolá, mas nada realmente impressionante. Aliás, as cenas de morte de personagens importantes são absolutamente apáticas; fica parecendo que, para David Yates, a ausência de contornos excessivamente dramáticos é essencial. Mas, o que ele não percebe é que são personagens fundamentais morrendo, e não se pode tratá-los como mera peças em um tabuleiro que podem ser facilmente descartadas sem maiores explicações.
Além do mais, há uma série de seqüências que beiram o ridículo e o mau gosto, e dão realmente a impressão de que David Yates e sua equipe não estavam seriamente empenhados em fazer um bom filme, já que este renderia muito dinheiro de qualquer forma. Vide o momento "Chico Xavier", cena de pós-morte tão ruim ou até pior do que de filmes brasileiros de cunho espírita recentemente lançados em circuito; e também o momento "novela das seis", um epílogo abosolutamente ridículo e desncessário. Afinal, quando pensamos que o filme irá acabar (finalmente!), há uma seqüência final mal feita, piegas e completamente deslocada em relação ao restante do filme, e que poderia muito bem ter ficado na sala de edição.
A falta de dramaticidade é outro problema que permeia o filme inteiro. É tudo tão corrido e frenético (exatamente o oposto extremo da Parte I), que momentos pretensamente marcantes, como alguns beijos e declarações românticas perdem qualquer relevância emocional que poderiam ter, já que para Yates o que importa mesmo é a "monumentalidade" de sua obra, e não detalhes insiginifcantes (para ele, é claro) como narrativa e bom desenvolvimento dos personagens.
Aliás, quanto a estes, ainda continuo me perguntando quais foram os motivos para a escalação de Ralph Fiennes como Voldemort. Fiennes é um ator de amplos recursos, mas entrega aqui uma das piores atuações de sua carreira. Seu Lord Voldemort, com voz e trejeitos extremamente afetados, não causariam medo nem no mais covarde dos bruxos, e muito menos no público que assiste ao filme. Assim, a ausência de um vilão de "impacto", que já houvera sido um problema em filmes anteriores, aqui atinge o ápice: em vez de sentir medo, Voldemort em nenhum momento parece aterrorizante, muito pelo contrário, em certos momentos soa risível (principalmente no discurso que faz em Hogwarts em um determinado momento). E Yates parece não se importar, sempre dando closes constantes nas expressões exageradas de Fiennes.
O restante do elenco não está brilhante, mas também não compromete. Daniel Radcliffe entrega sua melhor performance como Harry Potter, o que não quer dizer muita coisa, já que seu personagem tem uma profundidade praticamente nula neste filme; Emma Watson e Rupert Grint, relegados desta vez a segundo plano (compreensivelmente, já que se trata do grande momento de Harry) continuam bem como Hermione e Rony. Por outro lado, enquanto foi um alívio ver a excelente Maggie Smith voltar a receber destaque como a professora McGonagall, outros atores (Jim Broadbent, Emma Thompson, Robbie Coltrane) estão ali só para "constar" e agradar aos fãs da série, já que não têm qualquer importância para a trama. O mesmo vale para a fantasma interpretada por Kelly MacDonald, inclupida somente para agradar fãs, mas fica nítido que sua presença poderia ter sido facilmente descartada. E uma questão me perseguiu durante toda a projeção: o que diabos houve com o Rabicho (Timothy Spall), que não teve um final conclusivo em outros filmes e simplesmente não aparece neste?
Como o duelo final entre Harry e Voldemort é oco em termos de emoção, a destaque de As Relíquias da Morte é um personagem coadjuvante, Severo Snape. Alan Rickman, ótimo ator, acaba sendo o melhor do elenco, trazendo uma nova dimensão para seu personagem a partir de um flashback que, embora não seja brilhante, é um dos poucos momentos mais bem trabalhados pelo roteiro e relativamente bem conduzido pelo diretor. Ciarán Hinds, por sua vez, está ótimo como o irmão de Dumbledore, embora a sua relação como o mentor de Harry fique absolutamenete confusa e mal explicada. Helena Bonham Carter também tem alguns bom momentos, embora o desfecho de sua personagem possa entrar em um eventual ranking das piores cenas nos últimos anos.
Assim, passados dez anos desde o lançamento de A Pedra Filosofal, no já longínqüo ano de 2001, a série "Harry Potter' irá deixar saudade para muitos fãs ao redor do mundo. Pena que ela se despede com mais um filme fraco, extremamente falho, e muito longe de ser o épico marcante que muitos esperavam.
Por Douglas Braga
16/07/2011