domingo, 10 de julho de 2011

Clube da Luta

Fight Club, 1999 / Dirigido por David Fincher
Com Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter e Meat Loaf

(3/5)

David Fincher estabelece uma direção de forma altamente criativa e inegavelmente bem ao tentar transpor aos telespectadores todo o desespero dos personagens, a forma como criticam a sociedade e a vida moderna, além de realizar um verdadeiro show de loucura em situações dramáticas que talvez outros não poderiam realizar da maneira brilhante tal qual foi concebida este exemplar. Clube da Luta é tudo isso, uma teia onde os personagens são inseridos de forma brutal, de forma crível e palpável, estabelecendo uma empatia real e magnífica desde seu inicio maravilhoso, entre público, história e personagens, que vão se fragmentando em relações frágeis (lembrando-nos mais uma vez que estamos assistindo a algo que traz a tona reflexos da sociedade moderna, que incomoda e promove reflexão).

Muitos filmes tratam dos mesmos temas aqui propostos, tocando diretamente na ferida de situações que estão na nossa cara, mas que pouquíssimos possuem a coragem de aceitar, além da fragilidade das pessoas frente ao consumismo frenético imposto pelos padrões da sociedade mundial atual, que influencia e cria padrões que antes não eram importantes. Clube da Luta faz isso e o faz muito bem. Expõe perfeitamente como situações assim podem modificar a vida de um homem, que se vê perdido em seu próprio mundo, plastificado por tendências ridículas, mas significantes em tamanho, importância e força para esse novo meio de produção capitalista que se instaurou praticamente no planeta todo, principalmente a partir do Séc. 19 e reorganizado socialmente mais a frente.

Fincher promove o verdadeiro caos com sua câmera, trêmula em muitos momentos decisivos, que traduzem perfeitamente a falta de lucidez dos fatos, colocando à prova toda uma loucura que se desencadeia com alguns personagens aparentemente sem lugar neste novo mundo. Norton interpreta esse homem, preso a todas essas tendências e sem força para escapar das garras possessivas das mesmas, onde com a chegada de um vendedor de sabonetes, as coisas começam a mudar, não para melhor, é verdade, mas sim um encaminhamento para o verdadeiro caos psicológico e social, um dos melhores já vistos nos cinemas. Tanto a mentalidade dos personagens quanto a dos telespectadores entram em paranóia total, eclipsando em um verdadeiro show de habilidade em ser tendencioso e provocativo.

Ao canalizar a violência, criando assim os Clubes da Luta, é que finalmente o propósito do diretor, através de seus personagens, se mostra mais claro. A fuga da realidade, a fuga dessa pressão de se viver em um cotidiano maçante, depressivo e consumista, a forma como se encontra prazer na dor, das sensações mais estranhas e exóticas já vistas, da sensação de se sentir vivo, de se sentir necessário, de não ser apenas mais um joguete da sociedade, de deixar de ser um instrumento para o capitalismo e se tornar, realmente, o protagonista de suas vidas e das ações dos seus corpos e mentes, todos este elementos são incrivelmente bem encaixados e conduzidos para em seguida, serem interpretados e analisados como se fosse um tapa na cara de quem o assiste.

A situação acompanhada ao passo que a projeção avança ultrapassa os limites do aceitável e expõe de maneira reveladora traços de personalidades relapsas e confusas, presas a esta sociedade. Um personagem freqüenta vários eventos de auto-ajuda, para os mais variados problemas, sejam eles psíquicos ou medicinais, apenas para ser necessário ou se sentir ajustado a um universo fora de controle emocional. Passagens como estas, a maneira com os personagens buscam se reconhecer em meio ao verdadeiro caos é o barato do filme, e sua grande sacada ainda é mais sensacional, onde promover o caos em cima do caos seria a tarefa essencial para modificar a atual sociedade e suas características destrutivas ao homem. É isso que ocorre nos Clubes da Luta e adiante, fora deles.

Há uma mensagem a ser transmitida, uma crítica ao consumismo exacerbado e os limites da convivência humana enquanto semelhantes, isso é inegável e realizado de forma original e esplendorosa pelo diretor. Mas por outro lado, o mesmo comete alguns erros ao reafirmar suas convicções de sociedade com tanta força e excentricidade, que acaba exagerando na concepção do mundo criado (ou pelo menos, o que tenta criar), além de algumas relações humanas. Passagens forçadas, explicações sem fundamento para fatos ocorrerem, a facilidade como tudo acontece e se espalha de forma assustadora, além de mais algumas características deixam o exemplar mais fraco em relação ao contexto em que a história se desenvolve, passando de uma realidade muito bem construída para o fantasioso e demasiadamente irritante.

Clube da Luta é um esforço magnífico na busca da compreensão de uma sociedade perdida em meio ao consumismo, a inexpressividade individual e a falta de personalidade, sendo retratada de forma brutal, crível e de extrema originalidade por Fincher, que já em 1999, provava que seus requintes de excentricidade não apenas conferia aos seus projetos uma originalidade fantástica, como também permitia que um olhar mais denso e crítico do público fosse utilizado com base para a compreensão de seus trabalhos. Excetuando algumas coerências, presente nas relações dos personagens principais, e mais alguns detalhes que são possíveis acompanhar pausando o DVD em determinadas cenas (que pra não dizer exóticas, são bastante originais e uma forma bastante diferenciada de se promover a arte), Clube da Luta é um golpe certeiro em que o assiste.

Por Daniel Borges
10/07/2011 

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