terça-feira, 5 de julho de 2011

Seven

Seven, 1996 / Dirigido por David Fincher
Com Morgan Freeman, Brad Pitt, Gwyneth Paltrow, R. Lee Ermey e Richard Roundtree com Kevin Spacey

(5/5)

Dizem que para quem realmente ama cinema, qualquer coisa é aceitável, mesmo não sendo lá uma obra-prima. Imagine então quando uma obra realmente cativante surge no cenário de filmes repetitivos e previsíveis. São esses momentos raros que que fazem da vida de um cinéfilo ferrenho algo maravilhoso. Seven, uma produção que tinha de tudo para ser apenas "mais um filme de suspense legalzinho", é um verdadeiro primor cinematográfico que com certeza arrebatará os mais calejados fãs do gênero.

É difícil inovar nesse gênero, até porque ele já foi usado e revirado do avesso de todas as formas possíveis e impossíveis, deixando pouco espaço para originalidade. E, de fato, Seven não é 100% original, mas com certeza está quase lá, e por poucos detalhes não se torna uma obra impecável. A premissa já começa arrasando e atraindo interesse, sobre a história de dois policiais que precisam prender um serial killer que mata suas vítimas se baseando nos sete pecados capitais. Sim, foi impossível se esquivar do mecânico "mocinhos policiais atrás de bandido psicopata", mas mesmo assim há um toque de diferencial no que diz respeito aos métodos pouco dedutíveis do assassino torturar e matar suas vítimas.

Baseado nessa metodologia doentia de homicídios, o assassino terá um lugar de grande importância no enredo, mas ganhará um peso ainda maior na metade final da trama. Já no caso dos mocinhos vividos por Brad Pitt e Morgan Freeman, tudo se encaixa dentro dos moldes tradicionais desse tipo de personagem, com a exceção da inserção de Gwyneth Paltrow no meio de tudo. Ela interpreta a esposa de Pitt e seus conflitos emocionais serão de suma e inesperada importância para os rumos que a trama vai tomando, evitando que tudo se encaminhe para o clichê e óbvio desfecho para esse tipo de filme. Além de ser a única personagem feminina de relevância, Paltrow ainda salva tudo da mediocridade, mesmo aparecendo relativamente poucas vezes.

Outro grande responsável pelo sucesso da obra foi seu diretor, David Fincher, em um de seus primeiros trabalhos. Mesmo inexperiente e com muito a aprender, Fincher foi muito sábio na direção limpa e livre de esquemas limitadores que impedem a direção de afetar o conteúdo do enredo na maioria dos suspenses. Muito pelo contrário, o cineasta se sobrepõe ao roteiro e comanda o filme da maneira que acha melhor, enxugando todos os clichês (ou pelo menos grande parte deles) presentes no enredo.

Por fim, a parte técnica premia tudo com sua agilidade e esperteza muito bem vindos nesse caso. A montagem específica, a trilha sonora, a fotografia, edição de som e maquiagem são de suma importância para o resultado qualitativo do filme, garantindo um aspecto saudável e competente ao conjunto da obra.

Mas tirando tudo isso, ainda há o elemento mais decisivo em tornar Seven algo acima da média: sua inteligência. Por mais que o tempo tenha passado e os filmes de suspense/terror tenham ficado cada vez mais burros (a década de 1980 tem uma grande participação nisso), Seven conseguiu manter uma dose de inteligência em cada singular momento, elevando consideravelmente o nível da produção. Mais do que isso, seguiu a firme a proposta inovadora que “O Silêncio dos Inocentes” (The Silence of the Lambs, 1991) causou no início da década de 1990, mas que já começava a se apagar de novo tão rapidamente. Dessa vez estava na hora dos suspenses voltarem a transbordar inteligência, assim como seus roteiros e direção. E antes que produções burras voltassem a prejudicar essa inovada, Seven voltou para impedir o acontecimento, influenciando uma nova geração de cineastas a ousarem mais e, mais importante, inovarem mais (vide Shyamalan em seu início de carreira com seus suspenses de altíssima qualidade). Por isso, tem uma importância inegável ao cinema do gênero.

O final surpresa da trama termina por encerrar esse conjunto de momentos deliciosos para qualquer fã de um bom filme. Indicado aos que gostam de sentir medo, mas não sem antes apreciarem em primazia um bom roteiro e uma excelente direção. Imperdível.

Por Heitor Romero
05/07/2011

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