Depois de Horas
(After Hours, 1985)
Dirigido por Martin Scorsese
Escrito por Joseph Minion
Com Griffin Dunne, Rosanna Arquette, Linda Fiorentino, Verna Bloom, Thomas Chong
Era mais um final de dia na vida de Paul Hackett (Dunne). Ele iria para casa, entediado, assistir TV. Mas, por algum motivo, decidiu sair e ir para um café ler seu Trópico de Câncer, de Henry Miller. De repente alguém fala com ele. Era uma bela garota, chamada Marcy, que também havia lido o livro.
Assim sendo, ele pega o telefone da casa da amiga Kiki (Fiorentino), uma artista plástica, pois Marcy (Arquette) mora com ela. Ambas moram em SoHo, Nova York, um bairro dominado por artistas, punks e homossexuais. Assim, Paul vai até lá para, se possível, ter algo quente esta noite.
É assim que esta obra-prima de Martin Scorsese começa. O filme é, em toda sua extensão um ode a Nova York. Uma homenagem aos seus habitantes, principalmente as suas minorias. O filme tem seu personagem principal um simples processador de textos. A amiga de Marcy é uma artista, o filme está cheio de homossexuais e punks... enfim. Não é exagero dizer que Nova York é uma personagem dentro desta magnífica e complexa obra.
Sim, complexa. Não é apenas um filme sobre um cara que vai passar a noite com uma garota, mas sim um filme sobre o comportamento humano diante do medo e das frustrações, e inclusive da morte. Eu sou partidário da tese de Luis Carlos Merten que diz que o filme é o maior coito interrompido da história do cinema. Algo que só pode ser comparado à Stanley Kubrick e seu De Olhos Bem Fechados. Não é para poucos certo? Eu não sei dizer, mas o filme pode ser até mesmo o comportamento humano diante do coito interrompido (a icônica cena de Paul, dentro de um banheiro olhando para o desenho de um homem com o pênis mordido por um tubarão deve dizer algo). Não é isso. Creio que é o homem diante do fracasso. Ou do medo da morte.
Griffin Dunne faz o melhor papel da sua carreira aqui, como o acoado e assustado Paul Hackett. Aliás, quem diabos conhece o Griffin?! Rosanna Arquette faz um bom trabalho como a bela e misteriosa Marcy, ao contrário de Linda Fiorentino, que está apenas morna.
Scorsese não é um diretor de comédias (mesmo que este filme tenha sido lançado logo após O Rei da Comédia), por tanto, o filme não é 100% brilhante. Existem alguns erros, mas nada que salte aos olhos. Na verdade, você só percebe quando observa com atenção. De fato, os erros estão na edição (onde Thelma Schoonmaker faz bonito de novo). Por exemplo: a primeira cena no Clube Berlin, quando Paul quase tem seu cabelo cortado à lá moicano, deveria ser um pouco mais longa, para nós nos situarmos melhor (ela é extremamente bagunçada, devido ao ambiente), ou pelo menos para dar suspense (Paul corta ou não o cabelo?)
Como já disse na minha crítica de A Última Tentação de Cristo, Michael Ballhaus é rei. Sua fotografia é inigualavel, e, mandando para as favas todos os outros diretores de fotografia com quem Scorsese já trabalhou, um legítimo Scorsese só funciona com ele. Talvez nem legítimo, mas acho que Scorsese só amadurece de fato quando trabalha com ele pela primeira vez, e é neste filme. Aqui você nota todas as características técnicas dos dois. Dollys, closes, whipes, tomadas de ângulos improváveis, ou mesmo sequências improváveis (a cena do molho de chaves caindo e a câmera vindo atrás em bungee jump é mágico).
Um filme extremamente desconhecido e subestimado na carreira deste mestre do cinema. Os fãs de Scorsese não deveriam esquecer dessa obra, que considero a mais complexa de sua carreira. Inesquecível.
Nota: 5 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
2 comentários:
coloquei pra baixar... não é possível que esse seja melhor que taxi driver ou touro indomável!?! só vendo pra crer!!
Nos acostumamos a ver Scorsese como sinônimode gueto e tiros na cabeça. Aqui temos o seu filme mais complexo, filosófico e intrigante. Cheio de simbolismos.
Recomendo assistir, com certeza será uma hora meia bem investida.
Postar um comentário