quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Brancaleone nas Cruzadas






Brancaleone alle Crociate, 1970/ Dirigido por Mario Monicelli
Com Vittorio Gassman, Stefania Sandrelli, Adolfo Celi e Paolo Villaggio

(4/5)

A Idade Média já foi retrada de diversas maneiras no cinema. Desde obras-primas marcantes, como O Sétimo Selo, de Ingamar Bergman, passando pelas divertidas comédias do grupo inglês Monty Python, e até em produções de nível no mínimo "duvidoso", como os recenetes Cruzada e Robin Hood, curiosamente ambos de Ridley Scott. Mas talvez as versões mais interessantes tenham sido  do diretor Mario Monicelli, falecido recentemente: O Incrível Exército de Brancaleone, lançado em 1966, e que alcançou um notável sucesso comercial; e Brancaleone nas Cruzadas, de 1970, que acompanha as aventuras do herói Brancaleone da Nórcia, imediatamente após os acontecimentos do filme anterior.

 O roteiro pode parecer estapafúrdio, mas é repleto de simbolismos e mesmo de tons sobrenaturais, penetrando na mentalidade do mundo medieval, além de um tom satírico delicioso. Na trama, Brancaleone, após quase todos os membros da peregrinação a Jerusalém da qual fazia parte terem sido mortos, parte junto com os quatro últimos sobreviventes (dentre eles, um coxo e um cego!) em direção a Terra Santa, para libertá-la do domínio dos mouros. No caminho, o "cavaleiro" ainda encontra uma bruxa, um leproso, um anão, um masoquista, um bebê, um alemão e ainda conversa com a morte!




 O humor do filme funciona perfeitamente. Há diálogos simplesmente hilários ( não há como não rir na seqüência da "luta" com o alemão, por exemplo). E o ator Vitorio Gassman, uma das maiores estrelas que o cinema italiano já viu, ainda investe em um certo tipo de humor físico que combina com o tom absurdo adotado pelo diretor (e também roteirista) Mario Monicelli. Dá-lhe brigas com o cavalo, batalhas contra vários oponentes, e mesmo cenas românticas (!) dignas de se chorar de rir. E os roteiristas (o próprio Monicelli, Agneore Incrocci e Furio Scarpelli) ainda tomaram um risco adicional no último ato, em Jerusalém: todos os diálogos são rimados, lembrado as cantigas cavaleirescas e as trovas medievais, tornando as situações mais engraçadas do que já seriam "naturalmente".

"Brancaleone nas Cruzadas" ainda pode ser deliciado pelas imagens belíssimas proporcionadas por Monicelli. O diretor mostra um garnde domínio técnico, demonstrado na intrigante seqüência da árvore com corpos pendurados, cena cuja força é ampliada pelos diálogos entre os mortos e a bruxa (mais uma vez, o sorenatural presente), com os primeiros contando os motivos de sua morte (por adultério, por ser judeu, ou  simplesmente por comer salame). Temas medievais são abordados em cenas memoráveis, como o encontro dos dois papas, além da linda (tanto visualmente, como em seu aspecto simbólico) luta entre Brancaleone e a morte. A fotografia é mais um trunfo, além da trilha sonora com o já clássico grito de guerra, "Branca, Branca, Branca, Leone, Leone, Leone!".



 O único pecado do filme é sua duração excessiva. Os 119 minutos acabam parecendo excessivos, e poderiam ter sido encurtados em cerca de 15 minutos. As cenas com o leproso, por exemplo acabam parecendo desinteressantes e mesmo desnecessárias perto de outros momentos hilários, e talvez pudessem ter sido eliminadas, sem fazer muita falta.

 Ainda assim, "Brancalone nas Cruzadas" consegue ser superior ao anterior, e mais conhecido "O Incrível Exército de Brancaleone". É uma comédia satírica interessantíssima, tendo como pano de fundo o período medieval, com cenas dignas de se assistir várias vezes. Sem dúvidas, é uma pérola do humor e do cinema italiano, de uma forma em geral.  

 Por Douglas Braga

1 comentários:

Monty Python bebeu muito dessa fonte. Confiram minha reZenha - http://rezenhando.wordpress.com/2016/04/18/com-o-incrivel-exercito-de-brancaleone-vamos-zarpar-para-as-cruzadas/

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