Pode-se dizer que existem poucos filmes preto e branco que realmente honram sua falta de coloração. Não há nada (e nunca mais vai existir) algo tão elegante, que consiga exercer tanto fascínio e admiração neste que vos fala quanto um filme em preto e branco.
Hoje os cineastas utilizam quase que gratuitamente o p&b. Como desculpa, eles dizem que dá um charme a mais à obra. De fato é realmente elegante uma obra sem cores, mas deve-se utilizar com cautela. Um preto e branco jogado à torto e a direita... é só um preto e branco, mas este recurso quando utilizado de forma inteligente passa a ser uma peça a mais no universo filosófico. Imagine se os produtores de ... E o Vento Levou (Victor Fleming - 1939) não utilizassem o Technicolor? O filme se tornaria mais um filme preto e branco na Hollywood da época de ouro (e certamente o beijo apaixonado de Scarlett O'Hara e Rhett Butler seria só mais um beijo em p&b).
Tomemos o exemplo de A Lista de Schindler (Steven Spielberg - 1993). É certamente um filme que utiliza bem o p&b, mas não deixa de ser um grande melodrama. Algumas cenas são tão claras que me fazem pensar se não seria melhor gravar colorido com uma tonalidade escura. Já O Pianista (Roman Polanski - 2002) é um filme para lá de negro, podendo ser perfeitamente gravado em p&b.
Mas por que eu estou falando da coloração dos filmes? Simples. Neste final de semana pude assistir a primeira uma hora e meia de Satantango (1994), do diretor húngaro Béla Tarr. O filme tem inacreditáveis sete horas de duração. Para não perder todo o dia assistindo uma única obra eu pensei comigo "Vou virar a noite assistindo o filme. Assim, quando for umas sete e 45 da manhã eu já vou ter terminado." Faz sentido, não? Teoricamente. Só que eu esqueci que é do filósofo húngaro Béla Tarr, sinônimo de minimalismo, longos planos sequência (o primeiro take do filme tem 8 minutos) e de uma narrativa lenta (o mesmo primeiro take mostra um grupo de vacas e bois andando por uma cidadela rural, simplesmente genial).
Vou usar Tarr como um exemplo de um bom emprego do p&b. Aliás, é uma regra deste cineasta utilizar apenas o preto e branco em suas obras, o que reflete perfeitamente sua visão de mundo. O mundo é preto e branco e sujo. Chega a ironia quando algum personagem descreve uma cena utilizando cores. "O homem derrubou uma tigela azul." Esta é uma das falas de Petrina em Satantango. Eu senti uma vontade quase desesperadora de ver cores, mas tudo o que eu via era escuridão e aquele ponto brilhante irradiando luz com um filme desesperadoramente lento e bicolor.
Já que hoje temos a oportunidade de ver filmes coloridos saltando para as nossas caras podendo nos causar problemas de visão, diretores e diretores de fotografia devem saber dosar o preto e branco, para não se tornar banal como o 3D (que já é bem antigo... Audioscopiks que o diga).
Por Victor Bruno
Hoje os cineastas utilizam quase que gratuitamente o p&b. Como desculpa, eles dizem que dá um charme a mais à obra. De fato é realmente elegante uma obra sem cores, mas deve-se utilizar com cautela. Um preto e branco jogado à torto e a direita... é só um preto e branco, mas este recurso quando utilizado de forma inteligente passa a ser uma peça a mais no universo filosófico. Imagine se os produtores de ... E o Vento Levou (Victor Fleming - 1939) não utilizassem o Technicolor? O filme se tornaria mais um filme preto e branco na Hollywood da época de ouro (e certamente o beijo apaixonado de Scarlett O'Hara e Rhett Butler seria só mais um beijo em p&b).
Tomemos o exemplo de A Lista de Schindler (Steven Spielberg - 1993). É certamente um filme que utiliza bem o p&b, mas não deixa de ser um grande melodrama. Algumas cenas são tão claras que me fazem pensar se não seria melhor gravar colorido com uma tonalidade escura. Já O Pianista (Roman Polanski - 2002) é um filme para lá de negro, podendo ser perfeitamente gravado em p&b.
Mas por que eu estou falando da coloração dos filmes? Simples. Neste final de semana pude assistir a primeira uma hora e meia de Satantango (1994), do diretor húngaro Béla Tarr. O filme tem inacreditáveis sete horas de duração. Para não perder todo o dia assistindo uma única obra eu pensei comigo "Vou virar a noite assistindo o filme. Assim, quando for umas sete e 45 da manhã eu já vou ter terminado." Faz sentido, não? Teoricamente. Só que eu esqueci que é do filósofo húngaro Béla Tarr, sinônimo de minimalismo, longos planos sequência (o primeiro take do filme tem 8 minutos) e de uma narrativa lenta (o mesmo primeiro take mostra um grupo de vacas e bois andando por uma cidadela rural, simplesmente genial).
Vou usar Tarr como um exemplo de um bom emprego do p&b. Aliás, é uma regra deste cineasta utilizar apenas o preto e branco em suas obras, o que reflete perfeitamente sua visão de mundo. O mundo é preto e branco e sujo. Chega a ironia quando algum personagem descreve uma cena utilizando cores. "O homem derrubou uma tigela azul." Esta é uma das falas de Petrina em Satantango. Eu senti uma vontade quase desesperadora de ver cores, mas tudo o que eu via era escuridão e aquele ponto brilhante irradiando luz com um filme desesperadoramente lento e bicolor.
Já que hoje temos a oportunidade de ver filmes coloridos saltando para as nossas caras podendo nos causar problemas de visão, diretores e diretores de fotografia devem saber dosar o preto e branco, para não se tornar banal como o 3D (que já é bem antigo... Audioscopiks que o diga).
Por Victor Bruno
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