domingo, 13 de junho de 2010

Os Incompreendidos

Os Incompreendidos
Les Quatre Cents Coups, 1959
Dirigido por François Truffaut
Roteiro de François Truffaut Marcel Moussy
Com Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Remy, Patrick Auffay

Conforme fiz na minha crítica de Shutter Island, farei uma observação sobre os títulos nacionais de filmes estrangeiros. Normalmente são escabrosos e não têm nada haver com a proposta da obra. Será que aqui neste filme de Truffaut (A Noite Americana, Fahrenheit 451) o título nacional também foi outra desgraça? Não. Aliás, de todos os títulos do mundo para esse filme, o título tupiniquim é o que mais se aproxima da proposta do filme. Inclusive, numa comparação mais exagerada, pode ter mais haver com a história do que o próprio título original, 'Les Quatre Cents Coups' -- algo como 'Pintando o Sete' no Brasil. De verdade "les quatre cents coups" significa "os quatrocentos golpes", e em alguns países esta foi a decisão tomada pelos tradutores, como nos Estados Unidos. Isso, meus amigos, é uma grossa falta de interpretação sobre o filme.


O filme conta a história de Antoine Doinel (Léaud), um garoto de cerca de 14 anos pobre, filho de um casal em constante turbulência. Antoine dorme ao agradável som das infindáveis brigas do casal. Fora isso, ele ainda tem que aturar um professor linha-dura na escola. Não aguentando mais a pressão, Doinel foge, passa uma noite nas ruas, mas logo volta para casa, quando os pais tentam uma reconciliação com o filho. Funciona por um tempo, mas Doinel, como bom adolescente que é, rapidamente volta a ser o mesmo de antes, mesmo tentando um breve esforço, quando se apaixona pela literatura de Balzac. E assim as suas aventuras se sucedem... ele toca fogo na casa, rouba uma máquina de escrever, etc.

É interessante, pois em todos os momentos da história do cinema os cineastas têm (e continuarão tendo) uma dificuldade hercúlea de retratar as crianças nas telas. Normalmente jogam um drama água com açúcar, ou fazem um filme Sessão da Tarde que não vale os watts que estamos pagando para assistir (vocês acham mesmo que a televisão é gratuita?). Felizmente Truffaut faz um tocante e carinhoso retrato da juventude, fazendo de Doinel um jovem aventureiro errante. Além disso Truffaut teve a inteligência de transformar o que seria a história de um adolescente "mal" em um adolescente "adolescente". Uma pessoa que às vezes tem boas intenções mas acaba fazendo o mal, perfeitamente mostrado na cena da redação em que Doinel plagia um texto de seu ídolo Balzac. "Sua busca pela perfeição lhe enviou diretamente para um zero", diz o professor, provocando em nós um misto de riso pelo quão embaraçante pode ser aquela situação, e tristeza por Doinel só queria fazer um bom texto. Além dessa existem outros pequenos incidentes provocados por Doinel tentando fazer boas ações.


Jean-Pierre Léaud vivem um Doinel excepcional, um verdadeiro adolescente. Parece que Truffaut escreveu o papel sob medida para ele, tanto que nos outros quatro filmes da série "Doinel" (fora um curta) Léaud sempre interpreta a personagem. Fora Léaud, Clarie Maurier fazendo a mãe de Doinel tem o papel mais intenso do filme. Na verdade, sendo bem simplista, todos os atores interpretam suas personagens de forma estupenda (eu mesmo consegui encontrar carisma na grossa personagem do professor de Doinel). Fora tudo isso o filme é dono de uma espetacular fotografia preto e branco com um aspect ratio estranho para a época, o 2:35:1.

Certamente Truffaut encontrou a fórmula certa para se filmar a fase mais incerta das nossas vidas.

Nota: 3 estrelas em 5

Por Victor Bruno

4 comentários:

Caramba Victor, eu tinha acabado de pensar em falar sobre o título do filme, eu ia dizer a exatamente a mesma coisa...

De qualquer forma, adoro o Truffaut, lindo filme.

hahaha, pense rápido!

Realmente fantástico.

Menti, menti e menti. Só vale pelo final.

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