O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford
The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, 2007
Dirigido por Andrew Dominik
Escrito para as telas por Andrew Dominik (Baseado no livro de Ron Hansey)
Com Brad Pitt, Casey Affleck, Sam Rockwell, Mary-Louise Parker, Garrett Dillahunt, Sam Sheppard
Dirigido por Andrew Dominik
Escrito para as telas por Andrew Dominik (Baseado no livro de Ron Hansey)
Com Brad Pitt, Casey Affleck, Sam Rockwell, Mary-Louise Parker, Garrett Dillahunt, Sam Sheppard
Droga, desculpe-me por contar o final do filme para você, logo no título, mas, não culpe a mim, culpe a Andrew e seu fantástico, sensacional, indescritível O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford. Um dos, com certeza, melhores filmes da última década, não só pelo esplêndido trabalho na cinematografia, mas bem como na filosofia e no roteiro magistral.
Quantas vezes você fez uma ação esperando ser recompensado com glórias, mas, ao contrário de tudo o que você previa e imaginava, o seu tiro acaba saindo pela culatra e você é tachado exatamente do oposto que você fez?
Imaginemos uma situação hipotética. Imagine que você é fã de... uh... Jack Nicholson. Você sempre adorou Jack Nicholson. Você assistiu seus filmes desde The Cry Baby Killer até Antes de Partir, passando por Um Estranho no Ninho, Batman, Marte Ataca!, etc. Todinhos.
Finalmente chega o dia em que você tem a oportunidade de conhecer o Jack. Ele está lá, sentado numa mesa, ou no tapete vermelho. Você encara-o frente-a-frente.
"- Hi, Mr. Nicholson, I'm your fan, I watche --
- Yes, yes, whatever."
E você fica lá, com cara de bobo, por que Jack Nicholson é exatamente o oposto do que você imaginou. Ele é grosso, arrogante e pensa que o mundo gira ao seu redor.
É exatamente o que acontece com Robert Ford em O Assassinato de Jesse James.... Nos idos do século XIX, Jesse James (Pitt) e seu irmão eram os maiores ladrões de trem, bancos, lojas, casas, estábulos, prostíbulos, rios cheios de peixes e só não roubavam aviões por que ainda não haviam inventado. O fato é que o oba-oba em cima de James e sua gangue eram tão grande que existiam revistas em quadrinhos e livros falando sobre os seus maravilhosos assaltos e suas fugas espetáculares. (De fato era tão grande a admiração que as pessoas tinham por este fora-da-lei que só faltavam pedirem por favor para que roubassem suas lojas.) Na mente do pequeno Robert Ford (Affleck) cresce um mito maior do que o comum. Então ele afirma que um dia entrará na gangue do famoso ladrão. Este dia chega e James é exatamente o oposto do que ele imaginava. Ele não é um ladrão espetacular, de fugas mirabolantes, ou simpático para quem é roubado, mas sim um fanfarrão grosso e prepotente que é capaz de matar qualquer um que se oponha a ele, inclusive se for da sua própria gangue. Robert Ford então toma uma decisão que mudará sua vida. Matar Jesse James.
O enredo é simples, eficaz e se desenrola de forma sensacional. Nas mãos de um outro diretor, esse filme se tornaria simples, anti-dramático. Talvez só mais um Western pós-modernistas. Nas mãos de Andrew Dominik (que é um veterano diretor de comerciais na Austrália e havia dirigido apenas um filme, chamado Chopper, com Eric Bana, em 2000) o filme se transforma em um drama filosófico sensacional, digno de ser confundido com um filme de Terrence Malick.
Robert Ford tem o desejo de ser grande. Segundo ele fora um fracassado rejeitado por todos durante toda a sua vida e não poderia desperdiçar uma chance de fazer algo grande. Um sujeito dessa natureza não poderia cair em mãos melhores que as de Casey Affleck (Gerry, Onze Homens e Um Segredo). Affleck passa todo o espírito ambíguo, indeciso e inocente de Ford. Um homem que demora quase uma semana e alguns dias para completar suas falas e -- quando consegue -- fala num tom arrastado, como se não tivesse certeza do que está dizendo. Brad Pitt faz um exemplar Jesse James, que já está cansado da sua vida de crimes e sabe que irá morrer logo, por mais que tente escapar, eliminando seus inimigos, sabe que seus esforços não valerão de coisa alguma. Como coadjuvante o sempre eficiente Sam Rockwell faz um ótimo Charley Ford, o homem que sempre tenta arrumar a situação.
O roteiro de Dominik tenta desmistificar o mito do bandido do oeste. Nos EUA, principalmente na época de seus crimes e sua morte, Jesse James era visto como um herói. Um semi-Robin Hood. Há uma cena em particular que nem mesmo Jesse gosta dessa alcunha.
"- Eu tenho muitas coisas sobre você. Revistas, livros. "Os Espetaculares Irmãos James".
- Você sabe que tudo isso é mentira, não sabe?
- (Em tom de desilusão) Sei."
Assim como o roteiro, Dominik também faz um trabalho exemplar na direção. Sempre seguindo um rítimo seguro e lento, sem exaltar o filme, ou procurando deixá-lo mais rápido, Andrew preza pelas imagens. E faz isso com êxito. Em seu filme, ele procura demonstrar o nervosismo e a ansiosidade do que está por vir, a tragédia que se seguirá. Note no duelo entre dois personagens, que ocorre num lugar fechado. Os dois gastam todas as suas balas numa distância de no máximo 45 cm, e não conseguem acertar um ao outro. É necessário um terceiro homem para conter o tiroteio (aliás, esse é o único do filme).
Ao lado da direção, Roger Deakins (Barton Fink, Kundun) faz um trabalho na fotografia de encher os olhos. Talvez a melhor fotografia da década (eu sei que não é, mas está no Top 10). Seu trabalho transmite uma atmosfera onírica, de lembranças de algo que já passou. As cenas em flashback são filmadas como se estivéssemos vendo algo num globo de neve, ou por uma vidraça, sensacional.
Como já dito, o filme caminha a passos de tartaruga (tanto que a primeira versão tinha mais de quatro horas de duração). Isso não impede que a tensão cresca no decorrer do filme, principalmente em seus 30 minutos finais. A desmistificação do sonho, que pode ser até mesmo confundida, ou o filme quis representas, a ilusão do American way of life.
E pobre do homem que disser que a América não é um bom lugar. Se tornará um pária e terá o mesmo destino do pobre covarde Robert Ford.
Talvez cairá no chão, verá a luz se esvaíndo dos seus olhos antes de encontrar as palavras certas.
Nota: 5 estrelas em 5
Por Victor Bruno
Quantas vezes você fez uma ação esperando ser recompensado com glórias, mas, ao contrário de tudo o que você previa e imaginava, o seu tiro acaba saindo pela culatra e você é tachado exatamente do oposto que você fez?
Imaginemos uma situação hipotética. Imagine que você é fã de... uh... Jack Nicholson. Você sempre adorou Jack Nicholson. Você assistiu seus filmes desde The Cry Baby Killer até Antes de Partir, passando por Um Estranho no Ninho, Batman, Marte Ataca!, etc. Todinhos.
Finalmente chega o dia em que você tem a oportunidade de conhecer o Jack. Ele está lá, sentado numa mesa, ou no tapete vermelho. Você encara-o frente-a-frente.
"- Hi, Mr. Nicholson, I'm your fan, I watche --
- Yes, yes, whatever."
E você fica lá, com cara de bobo, por que Jack Nicholson é exatamente o oposto do que você imaginou. Ele é grosso, arrogante e pensa que o mundo gira ao seu redor.
É exatamente o que acontece com Robert Ford em O Assassinato de Jesse James.... Nos idos do século XIX, Jesse James (Pitt) e seu irmão eram os maiores ladrões de trem, bancos, lojas, casas, estábulos, prostíbulos, rios cheios de peixes e só não roubavam aviões por que ainda não haviam inventado. O fato é que o oba-oba em cima de James e sua gangue eram tão grande que existiam revistas em quadrinhos e livros falando sobre os seus maravilhosos assaltos e suas fugas espetáculares. (De fato era tão grande a admiração que as pessoas tinham por este fora-da-lei que só faltavam pedirem por favor para que roubassem suas lojas.) Na mente do pequeno Robert Ford (Affleck) cresce um mito maior do que o comum. Então ele afirma que um dia entrará na gangue do famoso ladrão. Este dia chega e James é exatamente o oposto do que ele imaginava. Ele não é um ladrão espetacular, de fugas mirabolantes, ou simpático para quem é roubado, mas sim um fanfarrão grosso e prepotente que é capaz de matar qualquer um que se oponha a ele, inclusive se for da sua própria gangue. Robert Ford então toma uma decisão que mudará sua vida. Matar Jesse James.
O enredo é simples, eficaz e se desenrola de forma sensacional. Nas mãos de um outro diretor, esse filme se tornaria simples, anti-dramático. Talvez só mais um Western pós-modernistas. Nas mãos de Andrew Dominik (que é um veterano diretor de comerciais na Austrália e havia dirigido apenas um filme, chamado Chopper, com Eric Bana, em 2000) o filme se transforma em um drama filosófico sensacional, digno de ser confundido com um filme de Terrence Malick.
Robert Ford tem o desejo de ser grande. Segundo ele fora um fracassado rejeitado por todos durante toda a sua vida e não poderia desperdiçar uma chance de fazer algo grande. Um sujeito dessa natureza não poderia cair em mãos melhores que as de Casey Affleck (Gerry, Onze Homens e Um Segredo). Affleck passa todo o espírito ambíguo, indeciso e inocente de Ford. Um homem que demora quase uma semana e alguns dias para completar suas falas e -- quando consegue -- fala num tom arrastado, como se não tivesse certeza do que está dizendo. Brad Pitt faz um exemplar Jesse James, que já está cansado da sua vida de crimes e sabe que irá morrer logo, por mais que tente escapar, eliminando seus inimigos, sabe que seus esforços não valerão de coisa alguma. Como coadjuvante o sempre eficiente Sam Rockwell faz um ótimo Charley Ford, o homem que sempre tenta arrumar a situação.
O roteiro de Dominik tenta desmistificar o mito do bandido do oeste. Nos EUA, principalmente na época de seus crimes e sua morte, Jesse James era visto como um herói. Um semi-Robin Hood. Há uma cena em particular que nem mesmo Jesse gosta dessa alcunha.
"- Eu tenho muitas coisas sobre você. Revistas, livros. "Os Espetaculares Irmãos James".
- Você sabe que tudo isso é mentira, não sabe?
- (Em tom de desilusão) Sei."
Assim como o roteiro, Dominik também faz um trabalho exemplar na direção. Sempre seguindo um rítimo seguro e lento, sem exaltar o filme, ou procurando deixá-lo mais rápido, Andrew preza pelas imagens. E faz isso com êxito. Em seu filme, ele procura demonstrar o nervosismo e a ansiosidade do que está por vir, a tragédia que se seguirá. Note no duelo entre dois personagens, que ocorre num lugar fechado. Os dois gastam todas as suas balas numa distância de no máximo 45 cm, e não conseguem acertar um ao outro. É necessário um terceiro homem para conter o tiroteio (aliás, esse é o único do filme).
Ao lado da direção, Roger Deakins (Barton Fink, Kundun) faz um trabalho na fotografia de encher os olhos. Talvez a melhor fotografia da década (eu sei que não é, mas está no Top 10). Seu trabalho transmite uma atmosfera onírica, de lembranças de algo que já passou. As cenas em flashback são filmadas como se estivéssemos vendo algo num globo de neve, ou por uma vidraça, sensacional.
Como já dito, o filme caminha a passos de tartaruga (tanto que a primeira versão tinha mais de quatro horas de duração). Isso não impede que a tensão cresca no decorrer do filme, principalmente em seus 30 minutos finais. A desmistificação do sonho, que pode ser até mesmo confundida, ou o filme quis representas, a ilusão do American way of life.
E pobre do homem que disser que a América não é um bom lugar. Se tornará um pária e terá o mesmo destino do pobre covarde Robert Ford.
Talvez cairá no chão, verá a luz se esvaíndo dos seus olhos antes de encontrar as palavras certas.
Nota: 5 estrelas em 5
Por Victor Bruno
6 comentários:
a fotografia de barton fink é DO CARALHO.. tive a oportunidade de assistir recentemente ( acabei quase todos dos irmãos coen, só falta fargo e o primeiro lá)
bom, esse eu vou baixar concerteza!! que título foda hein?? um cara é o contrário do que você imaginava?? ele é um bosta??
QUE MARAVILHA!! to tipo de doideira que eu gosto kkkkkk
abração!
Também faltam dos dos Coen para eu assistir. Na Roda da Fortuna e O Grande Lebowski.
O fato é que O Assassinato... é um pouco pretensioso, mas não deixa de ser um ótimo filme. Fique atento quanto ao rítmo. É beeem lento.
assisti.... mas que puuuuuuuuuuuuuta filme viu.. maravilhoso!
Ei po... diga se a cena final, o camera fechada no rosto do robert ford não lembra a cena final de os incompreendidos??
"...e Robert Ford iria apenas cair
ao chão e olhar para o teto..."
"...a luz se esvaindo de seus olhos..."
"...antes que ele pudesse
encontrar as palavras certas."
rapaz.. o mais foda também é a narraiva do filme.. muito bom..
Na verdade eu também fiz essa comparação. Um freeze frame com um zoom. Realmente é muito parecido. Inclusive com um olhar de assustado. Filme sensacional. Tanto que essa última fala eu dei uma de Tarantino e roubei para colocar no meu último roteiro.
Na próxima semana eu posto o roteiro desse filme aqui no blog. Nessa semana eu já postei o de O Sexto Sentido.
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