Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (crítica II)

Para Victor Bruno, a última parte da saga de Harry Potter não é nada demais, nem nada de menos. Apenas o suficiente

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2

A saga de Harry, Hermione e Ron chega ao fim e Douglas Braga não gosta nada da sua conclusão

Especial David Fincher: A Rede Social

Na última parte do Especial, relembre o que Victor Bruno escreveu sobre A Rede Social, mais recente filme de David Fincher

Especial David Fincher: O Curioso Caso de Benjamin Button

Victor Bruno faz uma análise de O Curioso Caso de Benjamin Button, no penúltimo filme comentado neste especial

Especial David Fincher: Zodíaco

O nosso especial sobre David Fincher continua com Douglas Braga falando sobre Zodíaco, mais um thriller investigativo do norte-americano

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Através de um Espelho

Såsom i en spegel, 1961 / Dirigido por Ingmar Bergman
Com Lars Passgård, Harriet Andersson, Gunnar Björnstrand e Max von Sydow

Para começar, um trecho da Bíblia:
"No presente vemos por um espelho e obscuridade; então veremos face a face. No presente conheço só em parte; então conhecerei como sou conhecido."
O trecho reproduzido acima está presente na primeira epístola aos coríntios, no capítulo 13. Mas por que eu reproduzi um trecho da Bíblia nesta crítica? Ora, por que este é um trecho de fundamental importância para a compreensão da obra-prima de Ingmar Bergman, Através de um Espelho.

Mais uma vez o cineasta suéco volta ao tema da família, no seu típico cinema humanístico. Através de um Espelho é uma desconstrução sentimental de uma família desestruturada psicológica e espiritualmente (como tantas outras no cinema bergmaniano, vide Fanny & Alexander). Gente egoista, racionalista e desesperada povoa a tela de Ingmar Bergman neste filme. Esta "gente" sofre como nunca e precisa de carinho.

Neste filme esta "gente" são David (Gunnar Björnstrand, o egoísta racionalista), Minus (Lars Passgård, o filho desesperado que busca atenção), Karin (Harriet Andersson, a filha louca) e Martin (Max von Sydow, o único sensato do filme). Num dia de verão eles resolvem viajar para a casa de praia, afim de comorar a saída recente de Karin do hospital. A cena inicial, cruelmente irônica, não é nem reflexo do que veremos pelos próximos 90 minutos. Eles estão felizes, tomando banho no mar. Mas logo veremos que nada daquilo é real, é tudo fachada para o sofrimento que cerca aquelas quatro pessoas.


Agora, vamos analisar um pouco a obra. O título Através de um Espelho vem diretamente do trecho da Bíblia citado no início da crítica. O significado que os estudiosos teólogos aplicam a esta passagem é que não se pode compreender a vida em sua integridade enquanto estamos neste mundo (aos olhos da filosofia cristã, é claro). É preciso passar para o outro plano -- ou, para o outro lado do espelho, se quiseres algo mais poético -- para compreender tudo. Observe o trecho final: "No presente só conheço em parte; então conhecerei como sou conhecido." Isso é a justificativa para o título certo? Errado. Isso é a justificativa para todo o Através de um Espelho. Bergman, neste filme, faz uma viagem de conhecimento interior.

A personagem mais interessante do filme é, sem dúvidas Karin, numa interpretação inspirada de Harriet Andersson. Ela vive entre dois mundos, o real e o das suas alucinações. Mas este mundo alternativo, se bem analisado, pode ser o outro lado do espelho do trecho citado na epístola aos coríntios. Dentro da cabeça de Karin uma voz (que pode ser a de Deus, talvez) guia suas ações. E são estas ações que acendem a pólvora da trama.

O estudo das personagens continua, mas sempre gravitando ao redor. A viagem de conhecimento interior guiada por Bergman continua na persona desgastada e sofredora do escritor David, interpretado magistralmente por Gunnar Björnstrand. O olhar perdido, às vezes perplexo, de Björnstrand condiz perfeitamente com a sua personagem. Suas ações são egoístas (ele chega ao ponto de dizer que gostaria de se matar pelo simples fato de não aguentar o sofrimento, revelando aí uma personalidade misantrópica) e condescendentes, não importa se é com o seu filho. Aliás, seu filho Minus é, pelo menos para mim, a verdadeira personagem principal deste filme. O Minus de Lars Passgård é quem leva toda a carga dramática do filme. Todas as ações das personagens vão influir diretamente na personagem de Passgård. Isso fica bem claro no seu olhar perplexo ao final do filme -- talvez um dos melhores finais já filmados pelo ser humano. Além disso sua última fala não é nada menos do que sensacional.


Para sustentar toda essa parafernalha sentimental e filosófica, Bergman utiliza-se da fotografia tradicionalmente genial de Sven Nykvist (você nunca irá falar de Bergman sem falar de Sven Nykvist). Os planos são excelentes. A fotografia de Nykvist é inspirada, leve, quase flutuante. Nas cenas do quarto onde Karin tem suas alucinações "com o outro mundo", a câmera fica estratégicamente posicionada em plano aberto, como se nós fossemos as pessoas que são citadas por Karin.

Através de um Espelho é o primeiro filme da "Trilogia do Silêncio", que é seguida de Luz de Inverno e O Silêncio. O tal silêncio, neste filme, não são um, mas vários. O de Deus, por aparentemente só se comunicar com a menina esquizofrênica (em um conceito mais filosófico, talvez ela nem esteja louca, como se pensa). Pode também ser um silêncio mais claro, como o de David para Minus. Enfim, o silêncio no filme de Bergman é torturante. E o modo, a leveza como o diretor conduz sua obra é fascinante. Em resumo, Através de um Espelho é soberbo, perfeito, genial. Mas, claro, se tratando de Bergman, você já sabia disso.

Nota: 5 estrelas em 5

Por Victor Bruno

domingo, 28 de novembro de 2010

Garota Eslovena

Slovenka, 2009 / Dirigido por Damjan Kozole
Com Nina Ivanisin, Marusa Kink, Uros Furst, Peter Musevski, Dejan Spasic e Aljosa Kovacic

Poucas coisas me deixam tão indiganado como acabar um filme, você achar que é ótimo e, mesmo assim, você fica com um gosto amargo de decepção na boca. É realmente irritante, ou desesperador. É uma verdade que, infelizmente, sempre está rondando a cabeça de quem assiste um filme.

É, honestamente, um filme interessante. E talvez até real, muito comum de se encontrar, nas grandes cidades: Garota Eslovena conta a história de Alexandra (Nina Ivanisin, de beleza depressiva e pálida). Ela está vivendo um momento muito difícil em sua vida, devendo ao banco, hipotecando o apartamento onde vive... para solucionar seus problemas ela passa a se prostituir. Tudo certo até aqui. Entretanto, certa noite, um dos clientes de Alexandra -- ou Sacha, como queira -- tem um ataque cardíaco. Seria mais um ataque cardíaco, caso o homem não fosse um ministro alemão que estava a viagem para uma conferência em Ljubljana, capital da Eslovênia e atual lar de Sacha. A polícia passa a procurar a garota que estava no quarto com o ministro quando ele morreu, uma tal chamada "Garota Eslovena" (que na verdade é a própria Sacha). Isso serve de pano de fundo para acompanharmos o desenvolvimento emocional e psicológico de Alexandra e as tentativas de esconder do pai a vida "promíscua" que leva.

A direção de Damjan Kozole é bastante fria. Em momento algum do filme o diretor põe Alexandra como coitadinha. Kozole não quer construir um dramalhão com seu filme. Tudo o que ele quer e responder uma única pergunta: quem é ela? Por que ela está fazendo isso? Estas são questões que vão permear toda a narrativa do filme. Narrativa esta que corre bem lentamente, fazendo os 90 minutos de filme parecerem uma eternidade. Não que isso seja uma falha, afinal é exatamente o que o filme pede.


Para ressaltar a frieza narrativa do diretor temos dois aspectos importantíssimos: o design de produção e a fotografia. Ambos casam perfeitamente. A fotografia tem um tom azulado (Ridley Scott mode on?) bastante interessante, e documental -- e é exatamente o que o filme pede, afinal estamos inspecionando a vida de uma garota, como num documentário. Enquanto isso o design de produção aposta em cores frias. O branco, preto e azul escuro (e bota escuro nisso) são as cores predominantes. Talvez a única excessão nesta paleta de cores seja exatamente na primeira cena, no hotel, quando o ministro tem o ataque cardíaco. A música composta pela banda de música Silence também é excelente.

O filme tem ótimas atuações. A que mais chama a atenção seja a da protagonista, Nina Ivanisin, e sua Alexandra. Sua atuação, ao olhos dos mais desavisados, pode parecer amadora, sem vontade. Mas se você prestar atenção, aquela aparente falta de vontade, as falas em voz baixa -- há uma cena em que uma atendente de telefone diz que não conseguiu escutar Alexandra --, tudo isso faz parte de uma excelente caracterização.

O resto do elenco está todo muito bom, exceto Primoz Pirnat, que interpreta Zdravko, um amigo do pai de Alexandra, Edo. Sem dúvidas Primoz é o elo mais fraco do elenco (a cena em que ele "grita" o nome de Alexandra no meio de uma rua é de amargar).


Damjan faz um ótimo trabalho neste filme. Mas há uma estranha indecisão no ar. O roteiro do próprio diretor Kozole, com mais dois colaboradores, é extremamente perdido. Existem momentos no filme em que você fica se perguntando "Mas o que isso significa?!", isto tudo por que Kozole não sabe como guiar a história. Em alguns momentos acompanhamos Alexandra em suas jornadas noturnas, em outros o filme aparentemente desiste desta abordagem, e ela acaba sendo perseguida por dois homens. Em seguida estes dois homens desaparecem da história e nunca mais dão as caras. O mesmo acontece com a personagem Verna, interpretada pela belíssima Marusa Kink, que some e depois reaparece para sumir de novo..., mas nada se compara ao momento em que o filme decide dar atenção a descartável personagem de Primuz Pirnat (que, como já dito, atua muito mal).

É um bom filme. Garota Eslovena pode ser considerado várias coisas, estudo da alienação social, da vida difícil, de famílias desestruturadas... enfim, é um filme muito interessante e que merece atenção. Seu final é talvez um dos mais interessantes que já vi, e também dos mais desesperadores. Entretanto destoa do resto da trama.

Isso só faz me dizer uma coisa: não é tão bom assim.

Nota: 3 estrelas em 5

Napisal Victor Bruno

sábado, 27 de novembro de 2010

O Lado Negro do Cinema - Parte 2

Para a tristeza de todos os seguidores deste blog, desta vez a bomba é brasileira, enfim, vamos fundo com mais uma de nossas frustrantes viagens ao...

LADO


NEGRO


DO


CINEMA

Atuações pífias e gafes imperdoáveis (isso fica nítido no começo do filme quando somos "presenteados" com um erro de ortografia nos créditos iniciais) fazem de Cinderela Baiana uma das maiores catástrofes do cinema nacional.

A história cheia de furos conseguiu ficar ainda pior nas mãos do diretor Conrado Sanchez (também responsável pelo roteiro), esse merece um prêmio por conseguir estragar algo podre.
O filme conta a tragetória de Carlinha,uma pobre menina que sonha ser uma famosa dançarina. Apesar das precárias condições de vida Carlinha fará de tudo para alcançar seu objetivo. Durante sua jornada ela conhece seu príncipeencantado, um famoso cantor de pagode. Clichê, não? Dos piores...


Podemos concluir que Cinderela Baiana é uma jogada de marketing muito mal sucedida, tão mal sucedida que até a própria Carla Perez diz ter vergonha de sua participação nesta pérola cinematográfica, creio que o final, seja o maior motivo para essa colocação.

Por Lucas Moraes

O lado negro do cinema- Parte 1



O que levou Pitof a fazer uma atrocidade dessas (também gostaria de saber que tipo de ser vivo dá um nome desses a seu filho mas isso não vem ao caso...) ? Mesmo com a bela protagonista confesso que este filme, de tão ruim, chega a enojar mais do que esses virais da internet onde pessoas comem fezes etc... Querem saber o motivo para tal argumento? Vamos começar pelo roteiro, com uma história muito mal elaborada, nada fiel aos quadrinhos, pela trama de bem ou mal mais clichê do que um episódio de As Aventuras do Didi. Outro motivo que justifique minha raiva para essa bagaça, é a falta de talento do diretor por colocar cenas de acrobacias em momentos totalmente desnecessários, desculpa esfarrapada para a falta de assunto de Pitof. As atuações também sustentam a mediocridade dessa coisa, os personagens são muito mal interpretados, enfim só assistindo para uma percepção concreta de tamanha ruindade. Prefiro encerrar meu comentário por aqui, essa porcaria não merece uma critica extensa, se me derem licença, vou descarregar todas as minhas lembranças de Mulher-Gato no vaso, ou seja, vou vomitar.

Por Lucas Moraes

Touro Indomável




"Eu nunca cai, Ray. Você nunca me derrubou."

Um homem insistente, isso é o que podemos dizer a respeito de Jake La Motta, que tem sua biografia muito bem filmada pelo mestre Martin Scorsese, neste belo e profundo drama. Um homem cheio de defeitos, mas que tem vergonha de corrigi-los. Um homem com muitas perdas, que as desconsidera,pois tem vergonha dessas. Enfim, um homem que vive em seu próprio mundo, que faz o que quer na hora que quer.

"Eu sou o manda-chuva..."

No que diz respeito ao elenco, Scorsese teve uma ótima escolha... ninguém menos que Robert De Niro foi o escolhido para o papel principal, que quebrou seu auge de "Taxi Driver" em o "Touro Indomável". Não só De Niro, como o restante do elenco, faz tudo parecer real. É incrível como a riqueza de expressões em um filme de Scorsese se sobressai por aqui. Mas o carro-chefe para tamanha superestimação da minha parte é De Niro, que encarna todas as mágoas e prazeres da vida de Jake, de maneira jamais vista em uma cine-biografia.

Quanto as cenas de luta, não tenho do que reclamar, são flashs, gritos e litros de sangue, a impressão é estar assistindo a luta na primeira coluna das arquibancadas.

Outro ponto positivo é a escolha da fotografia em preto e branco, que nos dá impressão que todas as cenas estão sendofilmadas na época em que os acontecimentos que deram origem a essas ocorreram.

Os diálogos estão impecáveis, lotados de sarcasmo e frases marcantes, como as que fiz questão de mencionar, sobre os dois primeiros parágrafos.

Seja você cinéfilo, ou alguém que goste um pouquinho de cinema, assista "Touro Indomável", uma das mais eficientes aulas, sobre como filmar uma obra-prima.

Por Lucas Moraes

Podcast Ornitorrinco Cinéfilo - Quentin Tarantino

Quentin Tarantino é, por muitos, considerado o melhor cineasta em atividade. Seus filmes são considerados (inclusive pelo próprio Tarantino) exemplos de bom cinema, e seu estilo influencia muitos outros cineastas.

Mas por que isso acontece? Merece Tarantino toda esta atenção? Todo esse oba-oba ao seu redor? Para descobrir, Victor Bruno (@brunovbruno) e Pedro Lemgruber (@pedrolemgruber), junto com Jorge Balseiros, do Mundo dos Cinéfilos e Daniel Dalpizzolo (@dandalpizzolo), editor do site Cineplayers e do blog Multiplot!, discutem, num papo ora tenso, ora descontraído, todo esta vibe quase insana ao redor de Quentin Tarantino.

COMENTADO NO PODCAST

O Conselho de Quentin Tarantino

Quentin Tarantino e a crítica de cinema

Tempo - 65 min

Clique aqui para escutar.

Por Victor Bruno

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Galeria - The Criterion Collection












Por Victor Bruno

OBS: Postagem de número 200 do Ornitorrinco Cinéfilo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cão Branco

White Dog, 1982 / EUA / Dirigido por Samuel Fuller
Com Kristy McNichol, Paul Winfield e Burl Ives

Precisamos discutir que o racismo é uma doença? Creio que não. Apesar disso ser uma coisa tão óbvia, clara como o dia, ainda existem pessoas que crêem que o certo é achar que é superior por que são de uma determinada cor. É ridículo, mas faz parte da nossa realidade. É algo que temos que lidar.

O racismo no cinema é algo realmente difícil de se lidar, por que... veja bem. Existem várias maneiras de se discutir o assunto numa película. Para mim a melhor maneira é se mostrar isso com uma certa frieza. Tudo bem que o importante é dizer "Racismo é ridículo. Veja como é um horror." O diretor ganha pontos com isso. Mas... não se pode transformar o assunto em pieguice. Não se pode fazer como o Spike Lee faz, generalizar tudo e dizer que todos os brancos são racistas. Aliás, Lee é muito criticado por isso (há um episódio em Family Guy em que nos é apresentado um pequeno flash sobre "As falas de um branco num filme de Spike Lee." A cena corta e aparece um cara branco grunindo como um neendertal).

Por que essa introdução? Por que nas mãos erradas (essas mãos seriam supostamente de Lee) o maravilhoso Cão Branco de Samuel Fuller se transformaria num líbelo aos negros. Lee comete o terrível erro de mostrar sempre os afro-descendentes como minoria oprimida, quase sem vontade. Não é assim que acontece. Fuller faz aqui um líbelo à igualdade das raças. Não há culpados, fora os racistas, neste filme.

Cão Branco conta uma história no mínimo interessante. Certo dia, ou melhor -- certa noite -- a aspirante a atriz Julie Sawyer (Kristy McNichol, linda) atropela um pastor alemão. Após tratá-lo dos ferimentos (e de pagar 250 dólares), Julie acaba caindo na real e descobre que não tem para onde levar o cão, há não ser para o abrigo, onde eventualmente será "posto para dormir". Rapidamente o cão está totalmente recuperado do acidente, e mostra-se brincalhão e calmo.


Em uma outra noite um estuprador entra na casa de Julie, o cão não demonstra ser tão dócil assim e derruba brutalmente o assassino. Que bom, né? Julie conseguiu um cão de guarda magnífico. Entretanto não é bem assim. O cão foge da casa e mata cruelmente um limpador de rua e, em seguida ataca uma amiga de Julie. A coincidência: ambas as vítimas eram negras. Logo a aspirante a atriz descobre que tem em mãos um cão de ataque. E não um cão de ataque comum: é um "cão branco". Um tipo de cão treinado especialmente para atacar (e de preferência matar) non-whites (modo imbecil que os norte-americanos chamam os negros). Sendo assim, Julie resolve levar o cão a um lugar onde possa ser re-educado. O homem que provavelmente conseguirá esta façanha chama-se Keys (Paul Winfield), que, irônicamente, é um negro.

O filme é fantástico desde o seu primeiro fotograma. Fuller conduz a história de modo apaixonante. Aliás, logo a cena do atropelamento é fantástica. Não escutamos nada, apenas o barulho do choque entre o carro e o cão. Fuller é um cineasta inteligente, e segue fielmente a cartilha ensinada por Hitchcock que diz que o que realmente causa medo (ou, no caso do filme, choque) é o que não pode ser visto. Cão Branco não trás, em momento algum, cenas brutais, onde o sangue escorre. Há sangue presente? Sim, claro, mas nunca corpos destroçados. Não há por que mostrar; Fuller sabe disso.

Alguns outros aspectos tecnicos do filme são dignos de nota, os principais deles são a ótima fotografia excelente de Bruce Sturtees, que investe em ângulos baixos e é abundante em closes. O outro aspecto importante (e de longe o melhor) é a sensacional trilha sonora do mestre Ennio Morricone. Aliás, eu estou assobiando-a neste exato momento. Ela é calma, mas, dependendo da situação, tensa.


O título "Cão Branco" me parece uma ironia. O "cão" do título pode se referir não ao animal, mas para o homem e seus preconceitos. Não qualquer homem; o homem branco racista. Para Fuller a prática do racismo é animalesca, não humana. Contradiz tudo aquilo o que é certo para nós, e se torna ainda mais animal quando condicionamos um ser puro, sem preconceitos, para odiar uma pessoa só por que ela é de determinada cor. Aliás, para Fuller, nem o próprio cão sabe o que está fazendo. Em determinado momento Keys fala o seguinte: "Os cães distinguem as cores, não as raças." Racismo é uma doença mental, e não tem cura.

Outro tema extremamente importante que é abordado pelo filme é a hipocrisia, mas este em escala bem menor. Para citar um exemplo, vejamos a própria personagem principal. Julie, no princípio do filme, não quer dar o cão para o abrigo, onde eventualmente seria morto (de forma cruel, aliás. Crueldade é outro tema abordado pelo filme). Afinal de conta, esta bomba relógio de quatro patas salvou sua vida. Entretanto, quando o cão mata um homem numa igreja (numa cena aterradora e extremamente cínica), Julie clama pela morte do cão. Perfeito.

Cão Branco tem outros aspectos excelentes. O relenco encabeçado por Kristy McNichol está ótimo. Aliás, McNichol tem uma cara de bondade e inocência que condiz perfeitamente com a personagem. Paul Winfield arrasa como o treinador de animais negro que já passou por muita coisa na vida. Talvez sua atuação seja caricata demais, mas eu gostei bastante.

Entretanto nem só de glórias vive Cão Branco. O filme também serve como válvula de escape para uma outra opinião de Samuel Fuller: o cinema está perdendo para os efeitos especiais. Em uma cena particularmente idiota, a personagem de Burl Irves joga uma navalha num pôster do robô R2-D2. Tudo bem, Fuller, eu concordo, mas eis uma coisa que não era necessária. Outro erro fatal do filme é ignorar totalmente o universo da personagem Julie. O que acontece com a personagem Roland Gray? Desaparece completamente. O que poderia ser um affair amoroso de Julie, transforma-se num ponto de interrogação. (E se fosse um affair amoroso seria um dos maiores clichés que já vi na vida.)

Cão Branco não é perfeito. Mas mostra o talento assustador de um cineasta renegado por Hollywood. Poucos cineastas tem um controle de cena como o de Fuller. As cenas em que o cão ataca são absurdamente realistas, nervosas, assustadoras. É um filme forte, duro, que mostra como o preconceito pode ser doentio. Fuller pinta o preconceito com pessimismo, como um caminho sem volta. E não tem. Coitado do cão, vítima das circunstâncias. Circunstâncias plantadas por nós.

Nós não. Eles, os cães brancos.

Nota: 4 estrelas em 5

Por Victor Bruno

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Pequeno Nicolau

Le Petit Nicolas, 2009 / França-Bélgica / Dirigido por Laurent Tirard
Com Maxime Godart, Charles Vaillant, Vincent Claude, Benjamin Averty, Germain Petit Damico, Victor Carles, Damien Ferdel e Virgile Tirard

Medo. Essa é a primeira palavra que vem a cabeça de uma criança quando descobre que terá um irmão. Como uma criança pode lidar com a possibilidade de não ser mais a estrela-maior da casa? Essa é uma boa pergunta, não? Se você teve infância e é o primogênito da família, com certeza já deve ter cogitado a possibilidade de ter um irmão. Para o bem ou para o mal, é uma experiência única.

É a partir deste tópico que o diretor Laurent Tirard (de As Aventuras de Moliére) trabalha seu infantil (e brilhante) O Pequeno Nicolau. O filme, baseado nos quadrinhos de René Gosciny e Sampé, é um retrato sincero e feliz da infância. No caso a infância de Nicolau (Maxime Godart, em sua estréia no cinema). Ele é um garoto popular, esperto, e está sempre cercado de amigos. Certo dia o garoto Joachim (Virgile Tirard, filho do diretor Laurent Tirard) chega atrasado na sua escola. Ele está com uma expressão desolada. Seu irmão acabou de nascer. E, amigo, isto é um golpe duro para Joachim.


Joachim conta para os colegar que foi uma experiência repentina. Num momento ele estava em casa e no outro estava com seu pai no hospital, esperando a mãe dar a luz. Isso mexe profundamente com Nicolau, que passa a observar os habitos dos seus pais. Para a surpresa (e choque) dele, os novos hábitos dos seus progenitores batem perfeitamente com a descrição fornecida por Joachim. O pai de Nicolau passa a ser mais solidário e cortês com a mãe, coisa que não é do feitio dele, etc. Para aumentar ainda mais o pânico do pequeno Nicolau, surge a possibilidade do futuro bebê expulsá-lo de casa ter de ir morar na floresta, "como o Pequeno Polegar." A partir daí Nicolau e seus amigos vão bolar os mais mirabolantes planos para que nada de mau lhe aconteça. (Ou, se algo de ruim tenha de acontecer... bem, que seja com o bebê.)

O filme é bem sincero e divertido. Aliás, é um filme feito para toda a família assistir, e se encaixa perfeitamente no gênero "filme da Sessão da Tarde". Eu até escuto o Dirceu Rabelo falando "Esse garotinho vai aprontar confusões que até Deus duvida!" Mas isso não quer dizer que o filme seja ruim. Está muito longe disso. Laurent conta a história da melhor forma possível. A fotografia de Denis Rouden utiliza-se opta por usar cores primárias (bem como o ótimo design de produção) e abusa da movimentação da câmera, e isso é um grande acerto. De outro modo o filme assumiria um ar demasiadamente pesado, o que não é o objetivo deste filme.

Comparações com outro filme francês que também trata da infância são inevitáveis. Claro que eu só posso estar me referindo à Os Incompreendidos do grande François Truffaut. Afinal ambos os filmes tratam de crianças, em um período de dificuldade e pânico das suas vidas. Só que o filme de Truffaut não é para toda a família, e nem poderia ser. Truffaut faz uma análise da infância estritamente direcionada aos adultos. Aqui Laurent (longe de querer ser um Truffaut) pinta a infância com cores claras e com gosto de naftalina.

O nosso Doinel, no caso, Nicolau, é irrepreensívelmente interpretado por Maxime Godart (a nouvelle vague também está presente nos atores, perceberam?). O menino é uma graça de pessoa. Assume uma expressão altiva, um riso sincero. Ele passa autenticidade até mesmo em cenas onde se requer mais interpretação. Para citar um exemplo, repare na sua expressão na cena em que seus pais estão discutindo, após ele ter "tentado" limpar a casa.


O resto do elenco também está impecável. Para montar a turma de Nicolau, Tirard (que assina o roteiro ao lado de Grégoire Vigneron) faz um painel de uma típica sala de aula. Temos o garoto arrogante, o nerd, o comilão... todos têm interpretações formidáveis. Claro, que eles têm seus pontos fracos, mas isso não arranha nem um milímetro na obra. Além disso, o elenco adulto está ótimo (observe nas expressões da mãe de Nicolau).

Claro que o filme têm suas ressalvas, principalmente no que diz respeito ao roteiro. Algumas cenas parece que foram feitas especialmente para servirem de escada para as piadas. Entretanto elas se encaixam, mesmo que manchando a honestidade que mencionei no início do texto, no contorno do filme. Isso é bom, mas poderia ser melhor.

No final, Nicolau não é um Doinel da vida, como eu afirmei anteriormente. Apesar de também fugir de casa e voltar para o seio da família, ele não tem as mesmas desventuras da personagem interpretada por Jean-Pierre Léaud. Nicolau se assemelha mais com O Menino Maluquinho. Aliás, todos tem suas disfunções mentais (no bom sentido, se é que há um bom sentido nisso). Essas "maluquices" são perfeitamente exploradas durante o filme, e rendem a melhor cena da obra: a cena em que eles fazem o teste de Rorschach.

Tirard faz neste filme faz um trabalho excelente. Óbvio, tem todas as falhas e clichês do gênero, mas isso é uma coisa que não se pode evitar.

Nota: 4 estrelas em 5

Por Victor Bruno

terça-feira, 23 de novembro de 2010

"It Gets Better"

Que a Pixar é uma companhia cinematográfica que faz filmes excepcionais todos nós já sabemos. Quantas outras empresas são capazes de produzir obras que são capazes de penetrar no fundo das nossas almas e nos revelar a face humana das coisas?

A Pixar é uma epresa essencialmente humana. A Pixar se importa com as pessoas. Existem inúmeros casos em que a Pixar desceu do alto do Olimpo hollywoodiano e veio mostrar seu interesse para conosco. A Pixar não quer apenas tocar você, ela quer lhe ver o que pode fazer de melhor.

E é por isso que recentemente a Pixar se lançou numa campanha pelos direitos sexuais. Ontem, dia 22, a Pixar postou um vídeo no YouTube onde seus funcionários falam sobre ser homossexual, como é sofrer preconceito pela sua opção e como pode-ser feliz assim.

Mais um ponto para a Pixar.



Agradecimentos especialíssimos ao Pablo Villaça, grande crítico de cinema, e ao seu blog, Diário de Bordo.

Por Victor Bruno

domingo, 21 de novembro de 2010

Podcast Ornitorrinco Cinéfilo - Stanley Kubrick

Bem vindos ao primeiro podcast do Ornitorrinco Cinéfilo!

No podcast de hoje Victor Bruno (@brunovbruno) e Pedro Lemgruber (@pedrolemgruber) discutem a carreira de Stanley Kubrick.

Como é o nosso primeiro cast, ficou bem ruim, mas... bom, escute se quiser.

Clique aqui para escutar.

Por Victor Bruno

P.S. O meu microfone ficou bem baixo. Escute de preferência com fones de ouvido.

sábado, 20 de novembro de 2010

Livros - Tito Andrônico, de William Shakespeare

De longe o trabalho mais sangrento de Shakespeare. Ao todo são dois personagens mutilados (um tem as duas mãos decepadas, fora a língua e outro tem o braço direito cortado fora), duas decapitações, uma cena de canibalismo involuntário e muitas, muitas mortes...

Agora, não que a peça seja ruim. Shakespeare, de praxe, acerta ao justificar a violência. A mesma violência justificada no final de Hamlet (tanto na peça como nos filmes), mas elevada à enésima potência. Shakespeare utiliza a violência como forma de aliviar as tensões e frustrações das suas personagens, nas mais variadas maneiras. Tito trama uma vingança diabólica. Quinron e Demétrio cometem um estupro por que não conseguiram a mulher que queriam. Tamora faz maldades durante todo o texto para vingar seu filho Alabrão, que é cruelmente assassinado por Tito em nome da religião.

O texto é cru e tingido de vermelho-sangue. É quase indigesto. Com uma abordagem errada você pode repetir o feito de Peter Brook em 1955, quando mandou dezenas de pessoas para o hospital durante uma apresentação extremamente gráfica da peça.

Mas, citando a tradutora do texto para a L&PM, Beatriz Viégas-Faria, "Tito Andrônico é uma peça tão artisticamente atual quanto um filme dos irmãos Coen (Fargo, por exemplo)". Violência é um tema atual. Eu não compararia esse texto com Fargo, mas sim com um filme de Quentin Tarantino. Aqui Shakespeare trata a violência de forma tão banal quanto o diretor de Knoxville. Aliás, a Reduced Shakespeare Company se referiu à esta peça como "Shakespeare em sua fase 'Quentin Tarantino'."

E faz sentido.

Para o cinema, a maior adaptação da peça foi dirigida por Julie Taymor, com Anthony Hopkins no papel principal. Taymor optou por situar a peça não em um único ponto na história. Há vários anacronismos no visual do filme (liberdade artística, primo). Por exemplo, você poderá ver numa mesma cena (além de sangue escorrendo) um soldado romano, uma Halley-Davison, um soldado vestido com roupas fascistas, etc. É interessante. É uma fantasia visual que Julie Taymor constrói ao longo dos 162 minutos de filme. Entretanto a violência que ela impõe no filme é incomodativa. Chuta o cérebro de quem vê. Mas, bom, era exatamente o que Shakespeare queria: sangue, sangue e mais sangue.

Sim. É Shakespeare em sua fase "Quentin Tarantino".

Por Victor Bruno

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Videocast Ornitorrinco Cinéfilo - Joel Coen & Ethan Coen



Por Victor Bruno

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Trailer de London Boulevard, de William Monahan

É o momento dos sonhos de qualquer roteirista. Foi assim com Charlie Kaufman, Tony Gilroy e agora com com William Monahan, o roteirista do sucesso de Martin Scorsese, Os Infiltrados. Coincidência, ou não, Kaufman, Gilroy e Monahan foram todos vencedores, ou ao menos indicados -- no caso de Gilroy -- ao prêmio de Melhor Roteiro (Original, no caso de Kaufman, Adaptado, no caso de Monahan), no Oscar.

O momento dos sonhos ao qual me refiro, sir, é quando um roteirista finalmente pode se sentar na cadeira de diretor. Talvez até com o seu nome estampado. William Monahan chegou lá. Agora, dia 26 de novembro, estreará em Londres seu primeiro filme na direção. É London Boulevard, com Colin Farrel, Keira Knightley e o grande Ray Winstone. Segue o trailer:



Interessante observar alguns aspectos como o estilo movimentado que Monahan adota no filme (pelo menos estas são as impressões que o trailer dá. E trailer, amigo, é um grande mentiroso). O diretor parece ter aprendido direitinho a lição com Martin Scorsese durante o making de Os Infiltrados, ou então deve ter assistido muitos filmes do Guy Ritchie.

London Boulevard conta a história de um ex-criminoso que agora é o guarda-costas de uma reclusa estrela do cinema. De repente ele se vê envolvido numa guerra de gangues. Baseado no livro de Ken Bruen.

Como já dito, estréia dia 26 de novembro.

No Reino Unido, of course, ma'am.

Por Victor Bruno

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O poder da edição

A edição, em qualquer mídia, exerce um poder incrível. A edição pode transformar uma fala que tinha o poder de ser cômica, em uma frase imperatira e autoritária. A edição pode transformar uma notícia baseada em simples boatos em uma verdade irrefutável. O que imediatamente lembra a cena de Cassino (Martin Scorsese, 1994) em que a personagem de Robert De Niro, Ace Rothstein, fala para a jornalista que "quando o chefe não está aqui, eu assumo." Cinco minutos depois há uma cena em que alguém segura um jornal com Ace -- supostamente -- dizendo "Eu sou o chefe".

Para ilustrar o que eu quero dizer, posto aqui um trailer dramático para o filme Fargo (Joel e Ethan Coen, 1996). Fargo é uma comédia de erros com um humor negro. Mas este trailer passa a impressão que o filme dos Coen é um drama sombrio, senão melodramático.



Por Victor Bruno

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cinzas do Passado Redux

Cinzas do Passado Redux
Dung che sai duk, 1994
Dirigido por Kar Wai Wong
Roteiro de Kar Wai Wong (baseado no livro de Louis Cha)
Com Leslie Cheung, Tony Leung Ka Fai, Jacky Cheung, Tony Leung Chi Wai, Maggie Cheung, Brigitte Lin, Charlie Yeung

Os wiuxa são mais conhecidos por mostrarem intensas batalhas, de cinco em cinco minutos, com litros e litros de sangue escorrendo na tela. Os mestres deste gênero são atores como Bruce Lee, Sonny Chiba e outros tantos atores. É inegável que o wiuxa é mais voltado (se não totalmente) para a diversão do que para a filosofia. O que é interessante por que samurais e guerreiros solitários têm uma própria filosofia de vida, mas raramente é explorada.

O cineasta Kar Wai Wong (2046: Os Segredos do Amor, Amores Expressos) quis fugir à regra. Ao entrar neste verdadeiro campo minado, Wong corria um sério risco de queimar seu nome. Estragar um gênero com nomes tão conhecidos para o que poderia ser considerada uma egotrip fútil, uma masturbação que -- assim como todas -- só agradaria a ele mesmo.


É assim que surge Cinzas do Passado, a quarta incursão de Wong pelo cinema. Neste filme o cineasta oriental pega um mercador da morte (esta é a melhor forma de descrever a personagem) chamado Ouyang Feng (interpretado por Leslie Cheung). Ele é proveniente de um local chamado Montanha do Camelo Branco. Feng mora no meio do deserto de Gori, num lugar aparentemente esquecido por Deus e onde todos da região respiram violência. Em duas determinadas épocas do ano acontecem duas coisas distintas: na primeira um amigo de Feng chamado Huang Yaoshi (Tony Leung Ka Fai) sempre vem visitá-lo. Na segunda Ouyang vai trabalhar, por que todo mundo, em sua visão de mundo, já sentiu vontade de matar alguém. Ele apenas intermedia o desejo para a realização. Claro, com um bom pagamento, óbvio. Por que "matar não é difícil. A dificuldade é sair sobreviver."

OK. O filme está cheio de erros e falhas. A primeira delas é bem simples: não ter um fio narrativo. Simplesmente não há história! Não que isso seja realmente um problema (vide Waking Life, de Linklater), mas... Kar Wai Wong, nesta tour de force pela mente da personagem simplesmente nos joga no meio do deserto com este rapaz e daí é conosco. (Ou seja, a tour de force na verdade é do espectador em entender aquele emaranhado de cenas que nos são apresentadas.) Vou tentar dar uma breve explicação do que Cinzas do Passado nos mostra:

Na visita do espadachim Huang Yaoshi ele trás uma garrafa de vinho. Neste vinho há uma magia que faz as pessoas perderem a memória gradativamente. É o que acontece com Feng. Acontece? Não. Ao beber o vinho ele tem lembranças de coisas que aconteceram no passado. No primeiro lampejo ele se lembra de um amor que Yaoshi teve com uma esquizofrênica mulher chamada Murong Yin, mas que também acreditava ser o irmão, Murong Yang (percebeu o "Yin" e "Yang"?). Eu não estou bem certo de quem era quem, mas a história era essa.

Em um outro momento Feng lembra-se de uma garota que veio pedir sua ajuda para lutar contra uma gangue que matou seu irmão. A pobre garota era pobre e só podia pagá-lo com ovos e um jumento. Quem em sã consciência lutaria por esta ninharia? Um homem chamado Hung Chi (Jacky Cheung), e aí está uma amarra para outra história contada no filme. E assim vamos nós...

Percebeu, né? Durante os 98 minutos desta nova versão -- chamada de "redux", Deus sabe por que, talvez só para imitar o Coppola e seu Apocalypse Now Redux -- Kar não conta nada, e não quer contar nada que valha a pena ser visto. Na verdade todos os contos podem apenas a justificativa de uma mensagem que ele queira passar lá no final do filme. Eu poderia perfeitamente contá-la, já que ela se mostra totalmente irrelevante a trama -- apesar de servir como final do filme. Cinzas do Passado prova-se um filme totalmente desonesto com o espectador, apesar de ser interessante. E nem queira saber quanto a menina e seu jumento. Ela entra e sai da história sem contribuir em nada, absolutamente nada.


Toda esta dificuldade (não) narrativa que Kar Wai põe em seu filme exige uma boa, senão ótima, interpretação dos atores. Imagine um filme com toda esta complexidade sem atuações imponentes. Certamente seria uma visão do inferno. Felizmente somos compensados por uma maravilhosa interpretação do protagonista Leslie Cheung. Seu olhar perdido quando está se recordando de algo e penetrante quando está nas negociações com os clientes são marcas de uma excelente atuação. Os coadjuvantes (principalmente masculinos, que ganham muito mais destaque na trama) também não desandam na receita.

Mas sem dúvida a mais interessante atuação do elenco é a de Brigitte Lin, como o (a) esquizofrênico (a) Murong Yin/Murong Yang. Realmente haviam momentos da trama que eu parava tudo e me perguntava "É homem ou mulher?" Ponto para Brigitte e ponto para Kar Wai.

Falando em Kar Wai, se seu roteiro é uma bagunça, sua direção nem tanto. Kar se mostra um diretor bastante ousado, conseguindo manter o interesse do espectador em cenas de diálogos longas. Muitas vezes estes diálogos são entrecortados, com inserts de detalhes dos (maravilhosos) cenários montados para o filme, ou da natureza... Isso é desonesto com os atores e com o espectador, mas funciona.

Cinzas do Passado ainda tem como agravante nos seus crimes contra a honestidade a fotografia de Christopher Doyle e Pung-Leung Kwan. Tão esquizofrênica quanto Murong Yin, Kar e seus fotógrafos apostam em cores lisérgicas (auxiliada por uma montagem confusa e esquisita de Kit-Wai Kai e Patrick Tam), em tons amarelos. Há de se saber também que o estilo parece com um filme de Oliver Stone. A impressão que a fotografia passa às vezes é que foi feita com câmeras Super 8, daquelas bem amadoras. É só impressão. Kar achou isso bacana. É completamente irrelevante para o espectador. É elegante? É. Precisava? Não. Dá dor de cabeça? Pode crer que sim.

No final, Cinzas do Passado mostra-se um filme que trás uma filosofia. Ela não é bem utilizada. Ela é estilizada demais. Quer passar existencialismo demais para o espectador. Parece que o cineasta queria dar uma de William Shakespeare em Hamlet, com longos monólogos sobre a vida, a morte e tudo o que as cerca. Eu até pensei em dar quatro estrelas, mas após esta tour de force por mim mesmo e pelo cinema de Kar eu digo: mas que filme medíocre. Visualmente interessante, filosoficamente atraente, mas medíocre em sua arrogância e desonestidade.



E no LSD que Wai usou. E sim, é uma egotrip fútil.

Nota: 3 estrelas em 5

Por Victor Bruno

domingo, 14 de novembro de 2010

O Declínio do Império Americano

O Declínio do Império Americano
 Le Déclin de l'émpire Américain,1986
 Dirigido por Denys Arcand
 Roteiro de Denys Arcand
 Com Rémy Girard, Dominique Michel, Dorothée Berryman, Pierre Curzi, Yves Lacoste, Louise Portal, Geneviève Rioux, Mario Arcand e Daniel Brière




Em 2003, foi lançado nos cinemas um filme arrebatador, intitulado "As Invasões Bárabaras", que ganhou diversos prêmios ao redor do mundo (incluindo um Oscar). Tal filme ficou marcado pelas teses de seu diretor canadense, Denys Arcand, acerca do mundo contemporâneo em que vivemos, através de diálogos ágeis e inteligentes. Porém, tais idéias de Arcand foram "plantadas" no filme que antecedeu "As Invasões..", e que foi lançado em 1986: "O Declínio do Império Americano".

 À primeira vista, a trama do filme pode parecer absolutamente fútil. Enquanto um grupo de quatro homens, sendo três deles professores universitários de História (Rémy, Pierre e Claude, além de Alain), preparam o almoço numa casa de campo, um outro grupo de quatro mulheres (Dominique, Louise, Diane e Diane) fazem ginástica enquanto se preparam para se dirigir ao encontro deles. Nesse meio termo, tanto os homens quanto as mulheres conversam entre si sobre os mais diversos temas, mas principalmente sexo.

 Por trás deste argumento aparentemente banal, Arcand (que é formado em História pela Universidade de Montréal) consegue expressar suas teses acerca da sociedade atual atrávés de seus personagens. Desde o início, fica clara qual a principal idéia que o diretor e roteirista procura desenvolver ao longo do filme: quanto maior a busca ou o desejo de felicidade indivual, maiores são indícios acerca  da queda de uma nação ou civilização. Nesse sentido, o desejo constante de felicidade , no sentido do aumento das satisfações diárias de cada ser humano, esteria relacionado a um declínio do império americano, principalmente no que tange aos seus princípios e ideais. É notório pereceber como Arcand faz um trabalho típico de historiador, ao apresentar bases empíricas que procurem confirmar sua tese: logo no início a personagem Dominique (Dominique Michel), professora de História, cita exemplos para confirmar essas teses, como a época do imperador romano Diocleciano e do filósofo iluminista Rousseau.




 Assim, na visão do diretor, a maior , ou uma das maiores formas de satisfação imediata dos nossos desejos, é o sexo. E todos os personagens passam cerca de 70 % do filme conversando sobre suas aventuras sexuais, com quem transaram, como traíram suas esposas, de que forma obtêm prazer sexual (uma personagem, por exemplo, pratica sadomasoquismo) ou relações homossexuais que eventualmente tenham tido. Arcand aproveita para lançar uma idéia que irá desenvolver posteriormente em "As Invasões Bárbaras": ele faz uma críticas as gerações que cresceram nas décadas de 1960 e 1970 e suas utopias, iinclusive na defesa de uma liberdade sexual, mas que, na verdade, não consguiram efetivamente "mudar o mundo". Muito pelo contrário, seriam mais um símbolo de como vivemos em uma época de declínio civilizacional.

 Entre citações a historiadores famosos (como Fernand Braudel e Toynbee), críticas diretas ao marxismo, e diversas reflexões historiográficas (é notável a primeira cena, em que o personagem Rémy, dando uma aula, afirma que "a História não é uma ciência moral; os direitos, a compaixão, as injustiças são noções estranhas à História), o diretor consegue realizar um filme extremamente divertido. Os diversos diálogos são recheados de um delicioso humor negro, que nos gera uma empatia quase instantânea pelos personagens. É, no mínimo, inusitado ver na tela uma personagem falando livremente de uma orgia na qual participou com o marido; outro discutino sobre como usou uma pílula para ereção com sua esposa; e ainda uma cena extremamente divertida, em que o personagem é masturbado em uma casa de massagem, enquanto discute temas da História com sua massagista ( ela uma estudante de História)!





 Todo o elenco parece ter entendido perfeitamente quais as principais idéias do diretor, e incorporaram de forma precisa seus personagens. O maior destaque fica com Rémy Girard, intérprete do personagem Rémy (aqui há de se notar que Arcand utilizou os nomes de seus atores em vários personagens).  Apesar de podermos repudiar certas ações de Rémy, que fala de forma espontânea sobre as diversas vezes em que traiu sua esposa, conseguimos de certa forma gostar do personagem, tamanha sua irreverência. Não é a toa que o diretor o escolheu para protagonizar a continuação "As Invasões Bárbaras".

Assim, Denys Arcand consegue realizar, em "O Declínio do Império Americano", um filme que une reflexões sobre vários temas, através de diálogos extremente inteligente e atuações precisas, além de um alto nível de dviersão. Quem ama um tipo de cinema que una pensamento e diversão, não irá se desapontar com o filme.

 Nota: 4 estrelas em 5
 Por Douglas Braga

Preciosa Descoberta, pelo site Cineplayers

Recentemente o site de cinema Cineplayers (um dos mais respeitados sites sobre cinema do país, onde eu republico as críticas que escrevo aqui) lançou na Internet um pequeno curta-metragem, de quase dois minutos, como parte de uma interessante estratégia de marketing para a sua futura loja virtual.

O vídeo, estrelado por uma editora do site, Josi K. (talvez seja parente do Joseph K.), é interessante por que pode ser visto sem sequer saber que faz parte de uma campanha de publicidade; e também seu humor (volutário e involuntário) é excelente. A qualidade da atuação é ótima.



Pronto, pessoal do CP. Quero meu caché agora.

Por Victor Bruno

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A mitificação

"Quando a lenda se torna fato, publica-se a lenda." Esta frase é proferida por um jornalista no lendário Lawrence da Arábia, do lendário David Lean. Não tenho dúvidas disso, por razões mais que óbvias.

O cinema está cheio de artefatos lendários. Frases lendárias ("Are you talkin' with me?"), filmes lendários (2001: Uma Odisséia no Espaço) e diretores lendários (Francis Ford Coppola). De todos esses três "artefatos" citados anteriormente, nenhum deles me preocupa mais do que o último. Porque? Por que diretores fazem filmes e carregam seus nomes neles. Um filme feito por um diretor lendário não é somente um filme; é "um filme de".

Os diretores mortos não me preocupam. Por melhor que o médium seja, eles não voltarão à vida e farão novos filmes (em alguns casos, felizmente). O que me preocupa sãos os diretores vivos. Seres humanos erram, e, no caso de um diretor que é uma lenda viva (e.g. Martin Scorsese), isso pode ferrar com tudo. Ele pode sofrer o que Michael Cimino sofreu com Heaven's Gate.

Com dois filmes (Thunderbolt and Lightfoot e The Deer Hunter), Cimino estava no alto do pedestal dos críticos. De repente ele tem um ataque de euforia e estroinice que lhe empurraram para fazer Heaven's Gate. O que, na mente de Cimino, seria um sucesso arrebatador, virou um dos maiores fracassos de bilheteria da história do cinema, levando a lendária United Artists à falência.

Este é um dos problemas do fato de ser uma lenda viva. Uma lenda viva sofre pressão. Sofre agonia. As pessoas lá fora gritando pelo seu nome, querendo saber quando será o seu próximo filme, se será sempre genial. Guarda-se uma importância enorme em cima de um nome, às vezes se esquecendo que há um homem por tás do nome. Spinoza nunca admitiria algo do gênero (vide o Tratado para o "Melhoramento do Intelecto").

O problema fica ainda mais grave quando o diretor-lenda se especializa em apenas um gênero (ou quando as pessoas acham que ele faz apenas um tipo de filme). Para exemplificar: A maioria dos fãs de Scorsese acham que ele faz só filme de gângster, ou deveria fazer só filme de gângster. Quer dizer que Scorsese não pode se aventurar por outros estilos? Aparentemente não, ou Ilha do Medo não receberia 64% de aprovação no Rotten Tomatoes, ou O Rei da Comédia não seria um retumbante fracasso de bilheteria.

Isso deve causar uma inércia criativa tão grande no diretor que eu me recuso a imaginar. Sim! O homem quer fazer um épico, mas o público quer uma ficção científica por que ele "só faz" ficções científicas. O estúdio, logicamente, vai optar por fazê-lo ir no rumo do público. Eventualmente o filme fracassa pela falta de vontade do diretor e seu nome vai para a fogueira. Hitchcock sabia que sua filmografia estava fincada em cima do suspense e do thriller, e usou isso bem, mas tudo me leva a crer que ele era um tanto infeliz, por causa da seguinte afirmativa:


"As pessoas sempre esperam de mim um suspense. Se eu dirigisse Cinderela elas rapidamente olhariam para o sofá à procura de um corpo."

Raros são os lendários como Kubrick que se aventuraram por vários gêneros sem repreensão do público. (Ou não.) Mas nem todos nós somos como Stanley Kubrick, não é? Até lá, choremos, então.

Por Victor Bruno

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Videocast Ornitorrinco Cinéfilo - Videocrítica: Medo e Delírio



Curiosidade: O diretor de fotografia do filme, Nicola Pecorili, foi escolhido por Gilliam não por talento ou coisa parecida, mas por ser cego de um olho.

Por Victor Bruno

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Paris, Texas

Paris, Texas
Paris, Texas, 1984
Dirigido por Wim Wenders
Adaptação de L.M. Kit Carson
Roteiro de Sam Shepard
Com Harry Dean Stanton, Dean Stockwell, Hunter Carson, Aurore Clement, Natassja Kinski

Já dizia o mestre Wes Anderson: "Família não é uma palavra. É uma sentença." Não poderia esta afirmação ser mais correta. Família prende, lhe guia e lhe esmaga. Você não sai de uma família, mesmo que a abandone. Você permanece com ela, mesmo que seja só no sobrenome. Este maldito sobrenome lhe trás memórias, sejam felizes, sejam dolorosas, mas trasem. Toda vez que você pensa que sai, ela lhe puxa de volta.

E é sabendo disso que o lendário cineasta alemão Wim Wenders (Asas do Destino, Quarto 666) faz, talvez, seu mais famoso, e melhor, filme. Paris, Texas é um filme tocante, singelo, absurdamente simples e igualmente fantástico. Uma história que, assim como as famílias, lhe pega quando você pensa que já saiu (ou, no caso, superou o que acabou de ver). É simplesmente fenomenal o trabalho que Wim Wenders faz neste filme para contar a história de Travis (Bickle?). Um homem atordoado, entorpecido, sem destino ou memória, que vive num cenário interior desolador.


Inicialmente conhecemos Travis (Harry Dean Stanton e suas orelhas de abano) numa cena lendária. Ele está no meio do deserto do Mojave, num ponto esquecido por Deus, com aminésia e um galão de água, vestido num terno absurdamente surrado e com um boné de baseball. Não há sinal de civilização por milhas e milhas de distância. Então ele começa a andar.

Após desmaiar num bar enquanto comia gelo, Travis vai parar no hospital. Com base em seus documentos o médico chama por seu irmão Walt (Dean Stockwell) para resgatá-lo. A partir deste momento sabemos que Travis estava desaparecido por quatro anos e tem um filho e sua esposa (Natassja Kinski) também sumiu. Tudo o que se sabe é que ela manda mensalmente dinheiro para mesada do filho, que se chama Hunter (Hunter Carson). O resto do filme concentra-se "volta para si" de Travis e no seu esforço para recuperar o amor do filho perdido e, quem sabe, juntar-se novamente a esposa.

O brilhantismo de Wenders é nítido desde o primeiro frame do filme. O modo como o cineasta alemão divide o filme e o seu senso de timing é perfeito. Primeiramente o Paris, Texas é um road movie que toma lugar no deserto desolador e escaldante do Texas, depois vira um intenso drama familiar de reconquista do amor (a segunda melhor parte do filme, com certeza), a volta para o road movie e o retorno do drama familiar, agora como tema o reencontro. Estas quatro divisões são fundamentais para a compreensão. E estas quatro divisões são suficientes para Wenders destilar todo o seu talento.

Auxiliado por um denso roteiro escrito pelo ator e dramaturgo Sam Shepard (também escritor de um outro filme de Wenders, A Estrela Solitária e um dos autores do retumbante fracasso de Michelangelo Antonioni, Zabriskie Point), Wenders constrói diálogos ímpares na história do cinema. E cenas ímpares também. O que não dizer da cena em que Travis vai buscar seu filho pela primeira vez, e volta de mãos vazias por que Hunter, o garoto, acha as roupas do pai simplesmente ridículas? Paris, Texas é um retrato maravilhoso de um homem que quer sua identidade de volta e, no processo, acaba em trânsito, com uma mudança de valores (no caso de Travis, ele não tinha nenhum, pois nem memória tinha).


Além de tudo isso as atuações do elenco são ótimas. Harry Dean Steanton é um ótimo Travis. Sua cara espantada no início do filme é um porta-retrato perfeito para sua personalidade entorpecida. Dean Stockwell está ótimo, assim como Aurore Clement. O iniciante Hunter Carson está perfeito em seu papel (sim, ele está muito confortável com a personagem que leva seu nome). Para completar o time de protagonistas, Natassja Kinski está perfeita em uma peruca loira. Aliás, sua atuação na cena do espelho está linda.

Paris, Texas é o título perfeito para esta tour de force pela mente do seu protagonista. Uma análise psicológica ímpar na história do cinema, uma viagem ao deserto que cerca Travis, mesmo quando está cercado de gente. Este deserto o deixa sem destino. Quando Travis volta a si, descobre as coisas do seu passado, parece pensar se não era melhor estar no deserto, sem ninguém. Ele percebe que é um estranho no ninho. Um ser falso. A piada que seu pai contava sobre sua mãe é uma metáfora até sobre si mesmo. E esta tour de force tem como a cereja no bolo a fotografia perfeita de Robby Müller e a trilha sonora tocante de Ry Cooder. Todos estes elementos convergem para uma cena única, a melhor do filme, e talvez o melhor acerto de contas na história do cinema: a supracitada cena do espelho.

Paris, Texas é a metáfora do deslocamento. Um lugar chamado Paris não é para estar no Texas. Assim como Travis não deveria estar no deserto, ou em lugar algum, que não seja com Jane e Hunter. E nem isso ele parece conseguir fazer direito. Travis é quase um Iuri Jivago. Um Werther da vida.

"Papai dizia que conheceu a mamãe em Paris. Daí ele fazia uma pausa e concluia: 'Texas. Paris, Texas'. Era uma piada muito engraçada. Até que ele realmente passou a acreditar que a conheceu em Paris."


Nota: 5 estrelas em 5

Por Victor Bruno

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